terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Louva-a-deus

Hotel Vista Angélica. Marty pagou ao recepcionista, pegou a chave e subiu a escada. A noite não estava muito agradável. Quarto 222. Que significava aquilo? Ele entrou e acendeu a luz. Uma dúzia de baratas correu para dentro do papel de parede, roendo, correndo e roendo. Havia um telefone, de moeda. Ele pôs os dez centavos e discou um número. Ela respondeu.
Toni? – ele perguntou.
É, é Toni... – ela disse.
Toni, eu vou ficar louco.
Eu lhe disse que ia ver você. Onde está?
No Vista Angélica, Seis com Coronado, Quarto 222.
Estou aí dentro de umas duas horas.
Não pode vir agora?
Escuta, preciso levar as crianças pra casa do Carl, depois quero passar pra dar uma olhada em Jeff e Helen, não vejo eles há anos...
Toni, eu te amo, pelo amor de Deus, quero ver você agora!
Talvez se você se livrasse de sua esposa, Marty...
Essas coisas levam tempo.
Vejo você dentro de umas duas horas, Marty.
Escuta, Toni...
Ela desligou. Marty aproximou-se da cama e sentou-se na borda. Esse seria o seu último envolvimento. Exigia muito dele. As mulheres eram mais fortes que os homens. Elas conheciam todas as jogadas. Ele não conhecia nenhuma.
Uma batida na porta. Ele foi abrir. Era uma loura de quarenta e tantos anos, com um vestido azul rasgado. Usava uma sombra roxa nos olhos e batom pesado. Um leve cheiro de gim.
Escuta, você não se incomoda se eu ligar minha TV, se incomoda?
Tudo bem, fique à vontade.
O último cara em seu quarto era meio doido. Era só eu ligar a TV e ele começava a bater nas paredes.
Está tudo bem. Pode ligar sua TV.
Marty fechou a porta. Pegou o último cigarro do maço e acendeu-o. Toni estava no seu sangue, precisava tirá-la de lá. Outra batida na porta. A loura de novo. A sombra dos olhos era roxa, e os olhos quase combinavam; claro que era impossível, mas parecia que ela acrescentara mais uma camada de batom.
Sim? – perguntou Marty.
Escuta – ela disse –, sabe o que a louva-a-deus fêmea faz quando eles fazem aquilo?
Aquilo o quê?
Foder.
Que é que ela faz?
Ela come a cabeça dele. Enquanto fazem aquilo, ela come a cabeça dele. Bem, acho que há formas piores de morrer, você não acha?
É – disse Marty –, como o câncer.
A loura entrou no quarto e fechou a porta atrás. Aproximou-se e sentou-se na única poltrona. Marty sentou-se na cama.
Você se excitou quando falei “foder”? – ela perguntou.
É, um pouco.
A loura levantou-se da poltrona, aproximou-se da cama e pôs a cabeça muito perto da de Marty, olhou dentro dos olhos dele e chegou os lábios muito perto dos dele. Depois disse:
Foder, foder, foder! – Chegou ainda mais perto e disse mais uma vez: – FODER!
Depois voltou e sentou-se na poltrona.
Como você se chama? – perguntou Marty.
Lilly. Lilly LaVell. Fazia strip-tease em Burbank.
Eu me chamo Marty Evans. É um prazer conhecer você, Lilly.
Foder – ela disse bem devagar, escancarando os lábios e mostrando a língua.
Pode ligar a TV quando quiser – disse Marty.
Já ouviu falar da aranha viúva negra? – ela perguntou.
Não sei.
Bem, eu lhe conto. Depois que fazem aquilo... foder... ela come ele vivo.
Oh – disse Marty.
Mas tem outras maneiras piores de morrer, você não acha?
Claro, como a lepra, talvez.
A loura levantou-se e pôs-se a andar de um lado para outro, de um lado para outro.
Tomei um porre ontem de noite, estava na autoestrada, ouvindo um concerto de trompa, Mozart, a trompa me penetrou, eu ia a cento e trinta por hora, dirigindo com o cotovelo e ouvindo o concerto de trompa, você acredita?
Claro, acredito, sim.
Lilly parou de andar e olhou para Marty.
Você acredita que eu posso baixar a boca em você e fazer coisas que nunca, nunca ninguém fez com um homem?
Bem, não sei no que acreditar.
Bem, eu posso, eu posso...
Você é legal, Lilly, mas estou esperando minha namorada aqui dentro de uma hora.
Bem, eu preparo você pra ela.
Lilly aproximou-se, abriu o zíper das calças dele, puxou o pênis para fora da cueca.
Oh, que lindo!
Umedeceu o dedo médio da mão direita e começou a esfregar a cabeça e um pouco atrás.
Mas é tão roxo!
Como a sua sombra...
Oh, está ficando tão GRANDE!
Marty deu uma risada. Uma barata saiu de trás do papel de parede para assistir à cena. Depois outra. Mexiam as antenas. De repente, a boca de Lilly engolira o pênis dele. Ela pegou pouco abaixo da cabeça e chupou. A língua parecia quase uma lixa; parecia conhecer todos os pontos certos. Marty olhava a nuca dela e excitava-se. Pôs-se a alisar os cabelos dela e a emitir sons. Então, de repente, ela mordeu-lhe o pênis, com força. Quase o decepou. Depois, ainda mordendo, levantou a cabeça com um safanão. Arrancou um pedaço da cabeça. Marty gritou e rolou na cama. A loura levantou-se e cuspiu. Pedaços de carne e sangue espalharam-se pelo tapete. Ela se afastou, abriu a porta, fechou-a e desapareceu.
Marty tirou a fronha do travesseiro e comprimiu-a contra o pênis. Tinha medo de olhar. Sentia as batidas do coração pulsarem por todo o corpo, sobretudo lá embaixo. O sangue começou a encharcar a fronha. Então o telefone tocou. Ele conseguiu levantar-se, aproximar-se e atender.
Sim?
Marty?
É.
É Toni.
Sim, Toni...
Você está falando esquisito...
É, Toni...
E só isso que tem a dizer? Estou na casa de Jeff e Helen. Vejo você dentro de mais ou menos uma hora.
Claro.
Escuta, que é que há com você? Achei que me amava.
Não sei mais, Toni...
Tudo bem então – ela disse furiosa, e desligou.
Marty conseguiu encontrar dez centavos e enfiá-lo no telefone.
Telefonista, preciso de um serviço de ambulância particular. Consiga qualquer uma, mas depressa. Talvez eu esteja morrendo...
Já consultou o seu médico, senhor?
Telefonista, por favor, me consiga uma ambulância particular!
No quarto ao lado, à esquerda, a loura sentava-se diante de seu aparelho de TV. Estendeu o braço e ligou-a. Chegara bem a tempo para o Programa Dick Cavett.

Charles Bukowski, in Numa Fria

Nenhum comentário:

Postar um comentário