Guardei-me
para a epopeia
que
jamais escreverei.
Poetas
de Minas Gerais
e
bardos do Alto Araguaia,
vagos
cantores tupis,
recolhei
meu pobre acervo,
alongai
meu sentimento.
O
que eu escrevi não conta.
O
que desejei é tudo.
Retomai
minhas palavras,
meus
bens, minha inquietação,
fazei
o canto ardoroso,
cheio
de antigo mistério
mas
límpido e resplendente.
Cantai
esse verso puro,
que
se ouvirá no Amazonas,
na
choça do sertanejo
e
no subúrbio carioca,
no
mato, na vila X,
no
colégio, na oficina,
território
de homens livres
que
será nosso país
e
será pátria de todos.
Irmãos,
cantai esse mundo
que
não verei, mas virá
um
dia, dentro em mil anos,
talvez
mais… não tenho pressa.
Um
mundo enfim ordenado,
uma
pátria sem fronteiras,
sem
leis e regulamentos,
uma
terra sem bandeiras,
sem
igrejas nem quartéis,
sem
dor, sem febre, sem ouro,
um
jeito só de viver,
mas
nesse jeito a variedade,
a
multiplicidade toda
que
há dentro de cada um.
Uma
cidade sem portas,
de
casas sem armadilha,
um
país de riso e glória
como
nunca houve nenhum.
Este
país não é meu
nem
vosso ainda, poetas.
Mas
ele será um dia
o
país de todo homem.
Carlos Drummond de Andrade, in A Rosa do Povo
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