domingo, 25 de setembro de 2022

A suave pantera | II

É suave, suave, a pantera.
Mas se a quiserem tocar
sem a devida cautela,
logo a verão transformada
na fera que há dentro dela:
o dente de mais marfim
na negrura toda alerta,
e ser, de princípio ao fim,
a pantera sem reservas,
o fervor, a força lúdica,
da unha longa e descoberta,
o êxtase da sua fúria
sob o melindre que a fera
em repouso, se não a tocam,
como que tem na singela
forma que não se alvoroça
por si só, antes parece,
na mansa, mansa e lustrosa
pelúcia com que se adorna,
uma viva, intensa joia.

Marly de Oliveira, in A suave pantera

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