Sucesso
no disco Elizeth sobe o morro, de 1965, o samba “A flor e o
espinho” tinha sido gravado (e ignorado pelo público) oito anos
antes pelo hoje esquecido cantor Raul Moreno. Na voz de Elizeth
Cardoso se tornou um dos maiores clássicos do gênero, com a marca
registrada da dupla Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, que,
nesta música, contou com o auxílio luxuoso de Alcides Caminha.
Foi
nesse tempo que, já cinquentão, Nelson Cavaquinho começou a sair
das sombras e a ser reconhecido. Não só pelos sambas que vinha
compondo desde a década de 1930, mas também como cantor de voz
rouca e violonista originalíssimo. Uma das atrações do Zicartola,
o misto de restaurante e casa de samba que o casal Dona Zica e
Cartola manteve entre 1963 e 1965 no Centro do Rio, Nelson também
foi gravado com sucesso por Nara Leão, Elis Regina e Beth Carvalho,
que se tornou a sua grande intérprete.
Apesar
do sobrenome artístico, Nelson Antônio da Silva (1911-1986) trocou
o cavaquinho pelo violão na juventude. Autodidata, desenvolveu um
estilo inusitado e rústico, usando apenas o polegar e o indicador
para tocar com vigor nas cordas do instrumento.
É
difícil imaginar que esse arquétipo do sambista boêmio e bom de
copo, vagando de bar em bar com seu violão, tenha sido soldado da
Polícia Militar. Mas, nos anos 1930, após servir o Exército, ele
se dividiu um bom tempo entre a PM e o samba, atuando na região do
Morro da Mangueira, onde ficou amigo de Cartola, Carlos Cachaça e
outros bambas, chamando a atenção de Noel Rosa. Acabou largando a
farda, mas passou as décadas de 1940 e 1950 vivendo de bicos, muitas
vezes vendendo seus sambas para “comprositores” ou cantores,
prática comum na época.
Nelson
teve duas dezenas de parceiros, mas o encontro com Guilherme de Brito
(1922-2006), no início dos anos 1950, foi fundamental. Também o
letrista de Nelson em clássicos como “Folhas secas”, “Quando
eu me chamar saudade” e “Pranto de poeta”, num fim de noite na
Praça Tiradentes, após uma festa, Guilherme teve a ideia para os
versos de abertura de “A flor e o espinho”, que se tornaram
clássicos na música brasileira:
“Tire
o seu sorriso do caminho / que eu quero passar com a minha dor.”
No
dia seguinte, mostrou para Nelson a letra amargurada, que foi
completada por Alcides Caminha (1921-1992), um funcionário do
Ministério do Trabalho que manteve por três décadas uma vida
secreta como autor de quadrinhos eróticos e se celebrizou como
Carlos Zéfiro.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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