sábado, 23 de julho de 2022

A efemeridade e a trivialidade do que é humano

Pondere quantos médicos morreram após franzirem as sobrancelhas repetidas vezes enquanto examinavam os enfermos. Quantos astrólogos, após pressagiarem de modo pretensioso o falecimento de outrem. Quantos filósofos, após discursarem de maneira interminável sobre a morte ou a imortalidade. Quantos heróis, após matarem milhares. Quantos tiranos, após se apoderarem com terrível insolência da vida dos subjugados — como se fossem imortais. Quantas cidades estão inteiramente mortas — como Helice, Pompeia, Herculano e inúmeras outras. Some ao cálculo todos os seus conhecidos. Em pouco tempo, um homem, após enterrar outro, morre, e outro o enterra.
Para concluir, constate sempre a efemeridade e a trivialidade do que é humano. O que ontem era um pouco de muco, amanhã será uma múmia ou cinzas. Então, viva durante este pequeno período em conformidade com a natureza. Satisfaça-se ao terminar a sua jornada como uma azeitona que cai ao amadurecer, que louva a natureza que a produziu e que agradece à oliveira onde cresceu.

Marco Aurélio, in Meditações

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