Na
vida humana, o tempo é um ponto. A substância, um fluxo. A
percepção, opaca. O corpo, putrescível. A alma, um turbilhão. A
fortuna, incerta. A fama, duvidável. Em resumo: o que pertence ao
corpo é uma correnteza; à alma, um sonho e uma névoa; à vida, uma
guerra e uma estadia temporária em terra estrangeira; à fama
póstuma, o esquecimento.
O
que, então, pode conduzir o homem? Somente a filosofia. Essa
consiste em:
I.
Manter nosso gênio interior inviolado e ileso, acima da dor e do
prazer e livre do despropósito, da falsidade, da hipocrisia e da
dependência da ação ou inação de outrem.
II.
Aceitar as ocorrências e a porção que nos foi alocada—proveniente
de onde nós mesmos viemos, onde quer que seja.
III.
Aguardar, com uma mente alegre, a morte—uma dissolução dos
elementos dos quais todo ser vivo é composto.
Caso
os elementos não sejam danificados ao continuamente se transformarem
em outros, por que ficar apreensivo diante da dissolução deles?
Essa transformação está de acordo com a natureza. E nada que é
natural pode ser ruim.
Marco Aurélio, in Meditações do Imperador Marco Aurélio: Uma Nova Tradução
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