O
gato, que mora no mundo para sempre perdido do cinema silencioso,
atravessa o país do tapete, onde se abrem flores falsamente
tropicais.
Ao
pé da escada, por força do hábito, a avozinha morta começa a
tricotar mais um pulôver.
Por
trás de suas barbas, no retrato da parede, o olhar do avô indaga: —
para quê?
De
repente, na copa, o refrigerador compõe ruidosamente a garganta,
enquanto estremecem de medo os frágeis habitantes do porta-cristais:
— Meu Deus, meu Deus, ele agora vai fazer um discurso!
Mário Quintana, in Esconderijos do tempo
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