Quando
o moço estava a catar caracóis e pedrinhas
na
beira do rio até duas horas da tarde, ali
também
Nhá Velina Cuê estava. A velha paraguaia
de
ver aquele moço a catar caracóis na beira do
rio
até duas horas da tarde, balançou a cabeça
de
um lado para o outro ao gesto de quem estivesse
com
pena do moço, e disse a palavra bocó. O moço
ouviu
a palavra bocó e foi para casa correndo
a
ver nos seus trinta e dois dicionários que coisa
era
ser bocó. Achou cerca de nove expressões que
sugeriam
símiles a tonto. E se riu de gostar. E
separou
para ele os nove símiles. Tais: Bocó é
sempre
alguém acrescentado de criança. Bocó é
uma
exceção de árvore. Bocó é um que gosta de
conversar
bobagens profundas com as águas. Bocó
é
aquele que fala sempre com com sotaque das suas
origens.
É sempre alguém obscuro de mosca. É
alguém
que constrói sua casa com pouco cisco.
É
um que descobriu que as tardes fazem parte de
haver
beleza nos pássaros. Bocó é aquele que
olhando
para o chão enxerga um verme sendo-o.
Bocó
é uma espécie de sânie com alvoradas. Foi
o
que o moço colheu em seus trinta e dois
dicionários.
E ele se estimou.
o
que o moço colheu em seus trinta e dois
dicionários.
E ele se estimou.
Manoel de Barros, in Memórias Inventadas – A segunda infância
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