No
dia de seu aniversário de vinte anos, alguém deu de presente a
Camila Ersky uma pulseira de ouro com uma rosa de rubi. Era uma
relíquia de família. Ela gostava da pulseira e só a usava em
determinadas ocasiões, quando ia a algum encontro ou ao teatro, a
alguma sessão de gala. Quando a perdeu, no entanto, não dividiu com
o resto da família o luto de sua perda. Para ela, os objetos
pareciam substituíveis, por mais valiosos que fossem. Apreciava
apenas as pessoas, os canários que enfeitavam sua casa e seus
cachorros. Ao longo da vida, acho que só chorou pelo desaparecimento
de uma corrente de prata, com uma medalha de Nossa Senhora de Luján,
banhada em ouro, presente de um de seus namorados. A ideia de ir
perdendo as coisas, essas coisas que fatalmente perdemos, não a
fazia sofrer como fazia o resto de sua família ou suas amigas, todas
tão vaidosas. Foi sem lágrimas que viu a casa onde tinha nascido
ser despojada, uma vez por um incêndio, outra, pelo empobrecimento,
ardente como um incêndio, de seus adornos mais estimados (quadros,
mesas, consoles, biombos, vasos, estátuas de bronze, ventiladores,
anjinhos de mármore, dançarinos de porcelana, frascos de perfume em
forma de flor de rabanete, cristaleiras inteiras com miniaturas
repletas de cachos e barba), às vezes horríveis, mas valiosos.
Suspeito que sua conformidade não era um sinal de indiferença e que
ela pressentia, com certo mal-estar, que um dia os objetos tirariam
dela algo muito precioso: sua juventude. Talvez agradassem mais a ela
que às demais pessoas que choravam ao perdê-los. Às vezes os via.
Chegavam a visitá-la, como pessoas em procissão, sobretudo à
noite, quando estava para dormir, quando viajava de trem ou de carro,
ou até mesmo em seu caminho diário para o trabalho. Por vezes a
importunavam como se fossem insetos: ela queria espantá-los, pensar
em outras coisas. Com frequência, por falta de imaginação, ela os
descrevia aos filhos, nas histórias que contava a eles para
distraí-los enquanto comiam. Não acrescentava aos objetos nem
brilho, nem beleza, nem mistério: não era necessário.
Numa
tarde de inverno, voltando dos afazeres pelas ruas da cidade, ao
cruzar uma praça parou em um banco para descansar. Por que imaginar
apenas Buenos Aires? Há outras cidades com praças. Uma luz
crepuscular banhava os galhos das árvores, as veredas, as casas que
a rodeavam; aquela luz que às vezes amplia a agudeza do
contentamento. Olhou para o céu por bastante tempo, acariciando suas
luvas de pelica malhada; em seguida, atraída por algo que brilhava
no chão, baixou os olhos e viu, depois de um instante, a pulseira
que tinha perdido fazia mais de quinze anos. Com a emoção de um
santo diante do primeiro milagre, recolheu o objeto. A noite caiu
antes que resolvesse, como outrora, colocar a pulseira no pulso de
seu braço esquerdo.
Quando
chegou em casa, depois de ter olhado seu braço para se assegurar de
que a pulseira não tinha se desvanecido, deu a notícia aos filhos,
que nem por isso interromperam as brincadeiras, e ao marido, que a
olhou desconfiado, sem interromper a leitura do jornal. Por muitos
dias, apesar da indiferença dos filhos e da desconfiança do marido,
despertava nela a alegria de ter encontrado a pulseira. As únicas
pessoas que teriam se assombrado devidamente já tinham morrido.
Começou
a recordar com mais precisão os objetos que tinham povoado sua vida;
lembrou deles com saudade, com uma ansiedade desconhecida. Como em um
inventário, seguindo uma ordem cronológica invertida, apareceram em
sua memória a pomba de quartzo com o bico e a asa quebrados; a
bomboneira em forma de piano; a estátua de bronze, que segurava uma
tocha com pequenas lâmpadas; o relógio de bronze; a almofada
marmórea, com borlas e listras azul-claras; os binóculos de ópera
com cabo de madrepérola; a xícara de chá com inscrições e os
macacos de marfim, com cestinhas cheias de macaquinhos.
Da
forma mais natural para ela, e mais inacreditável para nós, foi
recuperando pouco a pouco os objetos que durante muito tempo tinham
morado em sua memória.
Simultaneamente
percebeu que a felicidade que tinha sentido no começo se transformou
em mal-estar, em temor, em preocupação.
Quase
não olhava mais para as coisas, com medo de descobrir um objeto
perdido.
Enquanto
Camila, inquieta, tentava pensar em outras coisas, os objetos
apareciam, nos mercados, nas lojas, nos hotéis, em todo canto, da
estátua de bronze com a tocha que iluminava a entrada da casa ao
pingente de coração atravessado por uma flecha. A boneca cigana e o
caleidoscópio foram os últimos. Onde encontrou esses brinquedos que
eram parte de sua infância? Tenho vergonha de contar, porque vocês,
leitores, vão pensar que quero apenas assustá-los e que não falo a
verdade. Pensarão que os brinquedos eram outros, parecidos com os
originais, e não os mesmos; que claro que não existe apenas uma
boneca cigana no mundo, nem apenas um caleidoscópio. Mas o destino
quis que o braço da boneca tivesse uma borboleta desenhada em
nanquim e que o caleidoscópio tivesse, sobre o tubo de cobre, o nome
de Camila Ersky gravado.
Não
fosse tão patética, essa história seria tediosa. Se não parece
patética a vocês, leitores, ao menos é curta, e contá-la me
servirá de exercício. Nos camarins dos teatros que Camila costumava
frequentar, ela encontrou os brinquedos que, por uma série de
coincidências, pertenciam à filha de uma bailarina; a menina
insistiu em trocá-los por um urso mecânico e um circo de plástico.
Camila voltou para casa com os velhos brinquedos embrulhados em
folhas de jornal. Ao longo do trajeto, diversas vezes quis deixar o
pacote no descanso de uma escada ou na soleira de alguma porta.
Não
havia ninguém em casa. Ela escancarou a janela, inspirou o ar da
tarde. Então viu os objetos alinhados contra a parede do quarto,
como tinha sonhado que os veria. Ajoelhou-se para acariciá-los.
Perdeu a noção do dia e da noite. Observou que os objetos tinham
caras, essas caras horríveis que ganham quando os olhamos por um
tempo longo demais.
Através
de uma fileira de glórias, Camila Ersky tinha por fim entrado no
inferno.
Silvina Ocampo, in A fúria
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