Gravada
em 1938 por Carmen Miranda, “Na Baixa do Sapateiro” virou uma das
músicas brasileiras mais executadas no mundo. Também é a segunda
mais conhecida de Ary Barroso, perdendo apenas para a sua “Aquarela
do Brasil”, lançada um ano depois.
Mineiro
de Ubá, onde nasceu em 7 de novembro de 1903, órfão de pai e mãe
aos 8 anos, Ary de Resende Barroso começou a estudar piano na
adolescência. Aos 12 anos, já trabalhava como pianista num cinema
de sua cidade; três anos depois, fez sua primeira canção; mas,
antes de abraçar definitivamente a música, por via das dúvidas,
fazia o curso de Direito no Rio de Janeiro, para onde tinha se mudado
aos 17 anos. Em 1929, recém-formado, o colega de faculdade Mário
Reis (1907-1981) gravou duas canções suas, “Vou à Penha” e
“Vamos deixar de intimidades”, com tanto sucesso que o diploma de
advogado de Ary foi para a gaveta e o Brasil ganhou um de seus
maiores compositores.
Um
dos responsáveis pela consolidação do samba urbano e moderno, o
mineiro Ary também vinha sendo um dos inventores do imaginário
popular da Bahia, que conheceu e por que se encantou em 1929, quando
atuava como pianista na orquestra de Napoleão Tavares e seus
Soldados Musicais. Sua paixão pela cultura e pelos sabores
afro-brasileiros foi cantada também em grandes músicas como “No
tabuleiro da baiana”, “Os quindins de Iaiá” e “Faixa de
cetim”. Curiosamente e por linhas tortas, “Na Baixa do Sapateiro”
acabou abrindo caminho para o verdadeiro baiano Dorival Caymmi. Após
a gravação de Carmen, lançada em disco pela Odeon, era para a
Pequena Notável também cantar o samba no filme Banana da terra, mas
o compositor pediu mais dinheiro do que a produção oferecia. Sem
acordo, o produtor Wallace Downey soube da existência de um jovem
recém-chegado de Salvador, que lhe apresentou “O que é que a
baiana tem”.
Cinco
anos após perder para Caymmi a vaga no filme de Carmen, “Na Baixa
do Sapateiro” teve outra chance, dessa vez em Hollywood, na trilha
sonora de Você já foi à Bahia? (ou The three caballeros,
título original do filme de animação de Walt Disney). Graças a
esse empurrão, e com o título de “Bahia”, começou a rodar o
mundo. Foram dezenas de gravações, até pelo saxofonista supremo do
jazz moderno, John Coltrane, que gravou “Bahia” e assim batizou
um álbum lançado em 1965, um ano após a morte do compositor
mineiro e universal.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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