quarta-feira, 9 de março de 2022

Na Baixa do Sapateiro | Ary Barroso, 1938


Gravada em 1938 por Carmen Miranda, “Na Baixa do Sapateiro” virou uma das músicas brasileiras mais executadas no mundo. Também é a segunda mais conhecida de Ary Barroso, perdendo apenas para a sua “Aquarela do Brasil”, lançada um ano depois.
Mineiro de Ubá, onde nasceu em 7 de novembro de 1903, órfão de pai e mãe aos 8 anos, Ary de Resende Barroso começou a estudar piano na adolescência. Aos 12 anos, já trabalhava como pianista num cinema de sua cidade; três anos depois, fez sua primeira canção; mas, antes de abraçar definitivamente a música, por via das dúvidas, fazia o curso de Direito no Rio de Janeiro, para onde tinha se mudado aos 17 anos. Em 1929, recém-formado, o colega de faculdade Mário Reis (1907-1981) gravou duas canções suas, “Vou à Penha” e “Vamos deixar de intimidades”, com tanto sucesso que o diploma de advogado de Ary foi para a gaveta e o Brasil ganhou um de seus maiores compositores.
Um dos responsáveis pela consolidação do samba urbano e moderno, o mineiro Ary também vinha sendo um dos inventores do imaginário popular da Bahia, que conheceu e por que se encantou em 1929, quando atuava como pianista na orquestra de Napoleão Tavares e seus Soldados Musicais. Sua paixão pela cultura e pelos sabores afro-brasileiros foi cantada também em grandes músicas como “No tabuleiro da baiana”, “Os quindins de Iaiá” e “Faixa de cetim”. Curiosamente e por linhas tortas, “Na Baixa do Sapateiro” acabou abrindo caminho para o verdadeiro baiano Dorival Caymmi. Após a gravação de Carmen, lançada em disco pela Odeon, era para a Pequena Notável também cantar o samba no filme Banana da terra, mas o compositor pediu mais dinheiro do que a produção oferecia. Sem acordo, o produtor Wallace Downey soube da existência de um jovem recém-chegado de Salvador, que lhe apresentou “O que é que a baiana tem”.
Cinco anos após perder para Caymmi a vaga no filme de Carmen, “Na Baixa do Sapateiro” teve outra chance, dessa vez em Hollywood, na trilha sonora de Você já foi à Bahia? (ou The three caballeros, título original do filme de animação de Walt Disney). Graças a esse empurrão, e com o título de “Bahia”, começou a rodar o mundo. Foram dezenas de gravações, até pelo saxofonista supremo do jazz moderno, John Coltrane, que gravou “Bahia” e assim batizou um álbum lançado em 1965, um ano após a morte do compositor mineiro e universal.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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