Quase
não li Henry James, que parece que é maravilhoso, segundo um amigo
meu. Ele, Henry James, é hermético e claro. Citando James estarei
me tornando hermética para os meus leitores? Lamento muito. Eu tenho
que dizer as coisas, e as coisas não são fáceis. Leiam e releiam a
citação. Aí está ela, traduzida por mim do inglês:
“Que
espécie de experiência é necessária, e onde ela começa e acaba?
A experiência nunca é limitada e nunca é completa; é uma imensa
sensibilidade, uma espécie de enorme teia de aranha, feita dos fios
mais delicados de seda suspensos na câmara do consciente, e que
apanha no seu tecido cada partícula trazida pelo ar. É a própria
atmosfera da mente; e quando a mente é imaginativa – muito mais
quando se trata da de um homem de gênio – ela apanha para si as
mais leves sugestões, abriga os próprios pulsos do ar em
revelações.”
Sem
nem de longe ser de gênio, quantas revelações. Quantos pulsos
apanhados no fino ar. Os delicados fios suspensos na câmara do
consciente. E no inconsciente a própria enorme aranha. Ah, a vida é
maravilhosa com suas teias captantes.
Avisem-me
se eu começar a me tornar eu mesma demais. É minha tendência. Mas
sou objetiva também. Tanto que consigo tornar o subjetivo dos fios
de aranha em palavras objetivas. Qualquer palavra, aliás, é objeto,
é objetiva. Além do mais, fiquem certos, não é preciso ser
inteligente: a aranha não é, e as palavras, as palavras não se
podem evitar. Vocês estão entendendo? Nem precisam. Recebam apenas,
como eu estou dando. Recebam-me com fios de seda.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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