Red
ganha uma batalha entre frotas estelares no futuro distante do
Filamento 2218. Enquanto a grande Gallumfry se inclina em
direção ao planeta, lançando uma chuva de cápsulas de fuga,
enquanto as estações de batalha murcham como flores lançadas ao
fogo, enquanto as bandas de rádio chiam com triunfos e naves
ligeiras mergulham para escapar de perseguições, enquanto armas
ecoam seus últimos argumentos no espaço mudo, ela escapa. O triunfo
parece rápido e sem graça. Ela costumava adorar esse fogo. Agora,
só a lembra de quem não está lá.
Ela
escala fio acima, se consolando no passado.
Red
raramente procura a companhia de outros como ela. São todos
esquisitos — decantados depois de terem sido considerados
divergentes em algum ponto de seu desenvolvimento. Ou os mais
divergentes de todos: aqueles que decantaram a si mesmos. Eles não
ficam em paz, e continuam os jogos na rosa celestial. Eles se
destrincham do resto, introduzem assimetria.
Eles
criariam esta guerra se já não houvesse uma guerra criada para que
lutem, ela pensa.
Mas
ela busca companhia agora, em um dos lugares onde sempre encontra.
O
sol castiga as ruas de Roma. Um homem com um rosto magro e um nariz
fino e uma coroa de louros passa acompanhado pelo Teatro de Pompeia.
Outros o interceptam, convidam-no a entrar. Uma multidão está
esperando nas sombras: os senadores, seus servos, e outros.
— Você
já sentiu que está sendo seguido? Que a Comandante está espionando
você? — Red pergunta a um dos outros.
Um
senador oferece a César uma petição.
— Seguido?
— diz o homem com o nariz quebrado à sua esquerda. — Pelos
inimigos, às vezes. Pela Agência? Se a Comandante quisesse nos
espionar, poderia ler nossas mentes.
César
desconsidera a petição, mas os senadores o rodeiam.
— Alguém
está seguindo meus rastros, mas some assim que penso em pegá-lo —
diz Red.
— Agente
inimigo — diz a mulher à sua direita.
— Mas
são em excursões minhas, viagens de pesquisa, não de
contra-ataque. Como um agente inimigo saberia para onde eu vou?
Um
senador puxa uma adaga. Ele tenta esfaquear César pelas costas, mas
César segura sua mão.
— Se
for a Comandante — diz o homem com o nariz quebrado —, por que se
preocupar?
Ela
franze a testa.
— Eu
gostaria de saber se a minha lealdade está sendo testada.
O
homem que teve a mão segurada grita por ajuda em grego. Adagas
deslizam das bainhas dos senadores.
— Isso
acabaria com o propósito do teste — observa a mulher. — Ah,
deixe disso, nós vamos perder a diversão.
Ela
tem um sorriso largo e uma lâmina longa.
César
grita algumas palavras, mas elas se perdem no tumulto do ataque dos
assassinos. Red dá de ombros e suspira e se junta a eles. A guerra
oferece poucas chances de extravasamento, e ela não pode ser vista
dispensando uma. O sangue gruda em suas mãos. Ela lava depois, em
outro rio, bem longe.
Folhas
esvoaçam nos bosques de Ohio quando os gansos pousam. Um deles se
afasta dos demais gansos e se aproxima dela. Red pondera sobre o
destino do último ganso a lhe trazer uma carta e sente um momento de
culpa.
Há
um barbante ao redor do pescoço do ganso, e do barbante pende uma
bolsa de couro fino.
Suas
mãos tremem ao abrirem a bolsa. Seis sementes repousam lá dentro,
diminutas lágrimas carmesins com ainda mais diminutos números
entalhados em suas superfícies, de um a seis. Sobre o couro, em uma
tinta azul demais para aquele continente ou filamento, a caligrafia
que ela conhece bem, mesmo que só tenha visto uma vez, traça: Você
confia em mim?
Ela
se senta no bosque, sozinha.
Ela
confia.
Red
confia nela até os ossos, a ponto de ter que pensar por um longo
tempo para se dar conta do que desconfiar implicaria — o que essas
sementes podem ser, o que podem fazer a Red, se estiver errada.
Ela
come as três primeiras sementes uma a uma. Deveria se sentar debaixo
de um baobá, mas em vez disso afunda sob uma castanheira, rodeada de
seus frutos espinhosos.
Quando
cada carta se abre em sua mente, ela a enquadra no palácio da
memória. Ela tece as palavras em cobalto e lápis-lazúli, unindo-as
ao manto de Maria nos afrescos de São Marcos, à tinta sobre
porcelana, à cor de uma rachadura em uma geleira. Recusa-se a
deixá-la escapar.
A
terceira semente, com sua terceira carta, faz Red desfalecer.
Ela
acorda com o farfalhar de castanhas secas para descobrir as últimas
três sementes ainda em sua mão fechada, mas a bolsa de couro
desaparecida. Ela ouve passos no bosque e os persegue: uma sombra
dispara lá na frente, sempre fora de alcance, e então some, e ela
cai ofegante de joelhos no bosque vazio.
Amal El-Mohtar e Max Gladstone, in É assim que se perde a guerra do tempo
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