Lançado
em 1939 por Sílvio Caldas, um dos cantores mais populares do Brasil,
então vivendo o auge de seu sucesso e sua técnica, este samba
surpreende por sua harmonia sofisticada e a sensualidade de sua
letra. À frente de sua época na forma como tratou a paixão carnal,
de “beijo molhado”, musicalmente, “Da cor do pecado” também
antecipou alguns dos fundamentos estéticos consolidados pela bossa
nova. Surpreende ainda por ser uma das poucas composições
conhecidas de Bororó, o carioca Alberto de Castro Simões da Silva
(1898-1986), que começou a carreira quando o samba engatinhava e se
manteve em atividade até o fim da vida. Sobrinho da Marquesa de
Santos, ainda criança aprendeu violão com o pai e marcou presença
nos saraus familiares cantando modinhas com letras de Castro Alves e
Casimiro de Abreu. No início dos anos 1920, assinou suas primeiras
composições para ranchos carnavalescos do Rio.
Bororó
é também o autor de pelo menos mais um clássico, “Curare”,
este lançado em 1940 por Orlando Silva e, assim como o anterior,
regravado por João Gilberto. Reconhecido pelo faro apurado para
pescar no passado sambas esquecidos, no caso de “Da cor do pecado”
João chegou depois, o que só confirma a excelência da composição
de Bororó. Ele incluiu o samba no repertório de Eu sei que vou te
amar, gravado ao vivo em 1994, voltando a ele no disco Voz e violão,
produzido por Caetano Veloso em 1999. Bem depois, por exemplo, da
versão feita por Elis Regina no álbum Elis especial, lançado em
1968.
Em
1977, Ney Matogrosso seria outro seduzido pelos versos e pelos
sinuosos requebros do samba de Bororó, que foi um dos destaques no
disco Pecado. Entre os intérpretes da MPB que também gravaram “Da
cor do pecado” estão Nara Leão, Fagner e Cauby Peixoto.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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