Quase
oito décadas após seu surgimento, ela continua sendo um hino
informal do Brasil. Mesmo que sua letra abuse de termos datados –
adjetivos como mulato “inzoneiro”, morena “sestrosa” e
“merencória” luz – e de assumidas redundâncias simplórias,
como o “coqueiro que dá coco”. Apesar dessas ressalvas,
apontadas já na época em que começou a ser conhecida, a melodia e
o ritmo arrebatadores garantiram o crescimento e a permanência de
“Aquarela do Brasil”.
Este
clássico é também o principal exemplo de um subgênero, o do
samba-exaltação, que celebrava as belezas do Brasil, suas fauna e
flora, gente e geografia com linguagem ufanista e grandiloquente.
Lançada em pleno Estado Novo, “Aquarela do Brasil” se encaixou
como uma luva à política cultural nacionalista de Getúlio Vargas.
Externamente, também ajudou a vender para o mundo o lado mais solar
e alegre de um país atrasado e repleto de contradições e
injustiças.
O
estilo exuberante do samba-exaltação já estava presente em sua
primeira gravação, em 1939, no vozeirão do então Rei da Voz,
Francisco Alves, e reforçada pelo grandioso arranjo orquestral de
Radamés Gnattali. A partir de 1942, quando foi incluída num filme
de animação de Walt Disney, Alô, amigos, em que também estreia
nas telas o personagem Zé Carioca, a “Aquarela…” começou a
dar suas pinceladas pelo mundo na voz de Aloysio de Oliveira
(1914-1995). Ainda em 1942, com letra em inglês de Bob Russell e o
título abreviado para “Brazil”, o samba de Ary foi registrado
pelas orquestras de Jimmy Dorsey e Xavier Cugat. Desde então, vem
atravessando gerações e acumulando dezenas de regravações, por
alguns dos principais artistas brasileiros – Carmen Miranda, Sílvio
Caldas, João Gilberto, Elis Regina, Wilson Simonal, Gal Costa,
Emílio Santiago, Tom Jobim, entre outros – ou estrangeiros, como
Frank Sinatra, Bing Crosby, Paul Anka, Dionne Warwick, e até bandas
de rock do século XXI como Arcarde Fire e Beirut.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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