Quinze
quilos de maconha foram queimados ontem no Instituto de Pesquisas
Biológicas.
Até
1969 (não recordo com precisão a data da lei), não constituía
crime o consumo de maconha, apenas o traficante era punido. E nisto
já havia uma contradição: se não era criminoso o consumo, porque
proibir o tráfico?
Hoje
a contradição legal deixou de existir, quem fuma também vai para a
prisão. Quem fuma maconha, bem entendido. Pois destruir brônquios e
pulmões com o cigarro não é considerado crime. Pelo contrário, dá
status e é característica de homens que sabem o que querem.
Não
sei se algum dia entenderei o que se passa na cabeça de um
legislador. O que sei é que eles não aprendem nada da História.
Houve época em que o café era considerado tóxico, só homens — e
olhe lá — podiam bebê-lo. Bach, se não me engano, tem uma
cantata, a Cantata da Moça que Tomava Café, o que na época, era
inadmissível numa moça de família. Quem imaginaria hoje que o
cafezinho nosso de cada dia já teve tal fama?
— Divertida
justiça que um rio limita, erro aquém, verdade além dos Pirineus,
disse outro cronista também perplexo. Já estive em país onde a
municipalidade financia bares para que os jovens se reúnam para
degustar a canabis. Em alguns bares, há um aviso na porta: “Proibida
a entrada a maiores de 18 anos”.
Enfim,
cada cabeça uma sentença.
Em
outubro de 71, noticiou-se na crônica policial dos jornais uma
ocorrência que merece uma atenção maior das pessoas que se
preocupam com o problema do tóxico. Otacílio de Oliveira Escobar,
residente em um modesto barraco da vila Cai n’Água, foi preso por
tráfico de maconha. Os policiais que foram apreender a muamba no
barraco do Otacílio encontraram quilos e quilos de esterco bovino,
seco e esfarelado.
Segundo
Otacílio, os clientes nunca reclamaram da qualidade da mercadoria.
Pelo contrário, “os amizades ficavam pirados, todo mundo muito
louco”. Um dos clientes comentou o cheiro da erva, considerado fora
do comum. Otacílio tranquilizou-o:
— É
erva nordestina. Da boa. Muito mais forte.
E
mais pirado ainda ficou o magro.
Conheço
outra historinha ainda. A de uma moça que ofereceu a um magrinho um
cristal de LSD. O magro subiu pelas paredes, sem saber que havia
ingerido partículas de grafite.
Não
tenho nada contra os assim chamados tóxicos, tampouco contra a
magrinhagem. Gente boa como Freud, Huxley e Van Gogh curtiam certos
estimulantes. Já afirmei diversas vezes que certas drogas podem
excitar o cérebro, quando se tem cérebro. O que me entristece, é
ver toda uma geração que não sabe mais falar, que nem sabe fazer
amor, encerrados dentro de si mesmos, olhando para o próprio umbigo.
Se ao menos fosse para o umbigo do outro, talvez nesse olhar já
existisse o germe de uma comunicação.
Minha
modesta sugestão aos homens preocupados com os tóxicos: que tal
oficializar o consumo da maconha? Não se forneceria maconha aos
magros, é claro. Nem estou sugerindo esterco de vaca, gosto muito
deles para sugerir isto. Mas que tal alfafa? Por um lado, entre a
canabis sativa e a medicago sativa a magrinhagem não faz distinção
alguma. Por outro, seria um estímulo à agricultura gaúcha.
Janer Cristaldo, in A Força dos Mitos
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