No começo da guerra, havia uma mulher
chamada Lida que morava em Moscou. O marido dela era piloto, e ela
não gostava muito dele, mas eles viviam muito bem. Quando a guerra
começou, deixaram o marido servindo perto de Moscou, e Lida ia
encontrá-lo no campo de pouso. Uma vez ela chegou lá e lhe disseram
que no dia anterior o avião do marido havia sido derrubado perto do
campo de pouso e que o enterro seria no dia seguinte.
Lida foi ao enterro, viu três caixões
fechados e depois voltou para o seu quarto em Moscou, e ali esperava
por ela uma convocação para cavar valas antitanque. Ela só voltou
para casa no começo do outono e passou a notar que estava sendo
perseguida por um jovem de aparência muito estranha — magro,
pálido, macilento. Ela o encontrava na rua, na loja onde comprava
batatas, no caminho para o trabalho. Uma noite a campainha do
apartamento tocou, e Lida abriu. À porta estava aquele homem, e ele
disse: “Lida, você não está me reconhecendo? Sou eu, seu
marido”. Descobriu-se que ele não tinha sido enterrado, de jeito
nenhum, tinham enterrado terra; a onda de ar o havia jogado nas
árvores e ele resolveu não voltar mais para o front. Lida não
perguntou como ele tinha vivido aqueles dois meses e meio entre as
árvores, ele disse a ela que havia deixado tudo o que tinha na
floresta e conseguido uma roupa de civil numa casa abandonada.
E assim eles continuaram a viver. Lida
tinha muito medo de que os vizinhos o reconhecessem, mas tudo correu
sem sobressaltos. Naqueles meses, quase todos haviam deixado Moscou.
Então, um dia o marido de Lida disse que o inverno estava chegando,
era preciso enterrar o uniforme que ele havia deixado nos arbustos,
senão alguém poderia encontrar.
Lida pegou emprestada uma pequena pá com
a zeladora e eles partiram. Era preciso ir de trem para a região de
Sokólniki, depois andar por muito tempo na
floresta seguindo um certo riozinho.
Ninguém os deteve, e finalmente ao anoitecer eles chegaram a uma
ampla clareira em cuja ponta havia uma grande vala. Já estava
escurecendo. O marido disse a Lida que estava fraco, mas era preciso
encher de terra aquela vala, porque ele lembrou que tinha jogado o
uniforme ali. Lida olhou para o fundo e de fato viu lá embaixo algo
como um macacão de piloto. Ela começou a jogar terra em cima, e o
marido a apressava muito porque já estava escurecendo. Ela passou
três horas enchendo a vala aos pouquinhos, depois viu que o marido
não estava mais ali. Lida se assustou, começou a procurar, a
correr, por pouco não caiu na vala, e então viu que, lá no fundo,
o macacão estava se mexendo. Lida saiu correndo. A floresta estava
completamente escura, mas mesmo assim ela chegou à estação de trem
ao amanhecer, foi para casa e dormiu.
E no sonho o marido apareceu para ela e
disse: “Obrigado por me enterrar”.
Liudmila Petruchévskaia, in Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha: Histórias e contos de fadas assustadores
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