sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Te esperei a vida toda

E então ele disse:
Hoje eu entendo. Tudo o que eu vivi, tudo o que eu passei. Talvez tenham sido só caminhos. Porque na verdade eu sonhei com você a vida toda. Seu jeito de falar, sua risada, suas fragilidades e chatices, seu jeito desastrado. Com o seu rosto, eu não sonhei. Não saberia te imaginar porque nunca vi nada nem parecido. E as sardas nunca estariam nos planos. Foram muitos anos, muitas mulheres, muitos erros e alguns acertos. E então você apareceu. Não tenho nem idade nem tempo para fazer jogos ou para te dizer meias palavras, deixar coisas no ar. Não. Eu te esperei a vida toda. E agora eu estou aqui, você está aqui. E estou, enfim, segurando a mão que durante anos me contentei em observar nos sonhos. E só poder tocar em você já fez a vida valer a pena. Não me ache perigoso, nem um babaca. É que eu sei que ninguém encontra a pessoa que idealizou sem nenhum limite do concreto. Imagine então a sorte do cara que encontrou ainda mais. Não estou dizendo tudo isso por você nem por mim. Estou dizendo porque seria uma sacanagem com a vida não dizer. Eu enchi essa mulher de requisitos impossíveis, que nunca conviveriam juntos. E aí está você, num conjunto descombinado de qualidades encantadoras. Eu não espero nada. Te encontrar e te dizer tudo isso já foi tanto… Estou aqui, princesa. Vou sempre estar.
Ela continua procurando as palavras até hoje.

Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor

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