E então ele disse:
– Hoje eu entendo. Tudo o que eu vivi,
tudo o que eu passei. Talvez tenham sido só caminhos. Porque na
verdade eu sonhei com você a vida toda. Seu jeito de falar, sua
risada, suas fragilidades e chatices, seu jeito desastrado. Com o seu
rosto, eu não sonhei. Não saberia te imaginar porque nunca vi nada
nem parecido. E as sardas nunca estariam nos planos. Foram muitos
anos, muitas mulheres, muitos erros e alguns acertos. E então você
apareceu. Não tenho nem idade nem tempo para fazer jogos ou para te
dizer meias palavras, deixar coisas no ar. Não. Eu te esperei a vida
toda. E agora eu estou aqui, você está aqui. E estou, enfim,
segurando a mão que durante anos me contentei em observar nos
sonhos. E só poder tocar em você já fez a vida valer a pena. Não
me ache perigoso, nem um babaca. É que eu sei que ninguém encontra
a pessoa que idealizou sem nenhum limite do concreto. Imagine então
a sorte do cara que encontrou ainda mais. Não estou dizendo tudo
isso por você nem por mim. Estou dizendo porque seria uma sacanagem
com a vida não dizer. Eu enchi essa mulher de requisitos
impossíveis, que nunca conviveriam juntos. E aí está você, num
conjunto descombinado de qualidades encantadoras. Eu não espero
nada. Te encontrar e te dizer tudo isso já foi tanto… Estou aqui,
princesa. Vou sempre estar.
Ela continua procurando as palavras até
hoje.
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
Nenhum comentário:
Postar um comentário