sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O banho de música das 18 horas | Capítulo 5

Oh, professor, tem algo de errado com você? — a senhora Miruki ergueu a voz, preocupada, sobre o colo do professor.
O professor continuou a fitar, sem palavras, o vazio.
Seu corpo é tão frio quanto um cadáver! Eu me sinto gelada, como se estivesse em cima de um bloco de gelo. Oh, que sensação desagradável! Eu me pergunto se você é mesmo um ser vivo.
O professor riu.
Parece que estou vivo e morto ao mesmo tempo!
Perdão, você poderia repetir isso? — ela disse, agarrando-se ao peito dele. Mas de repente a porta foi irrompida com violência, e um grupo de pessoas entrou, gritando. Entre eles estava o presidente Miruki e a grisalha secretária de Estado, madame Asari.
Em um piscar de olhos, a senhora Miruki saltou do colo do professor. Os grandes olhos esbugalhados do presidente Miruki se tornaram mais proeminentes do que sua barba, e ele balançou seus punhos como uma bola de aço enquanto se aproximava do professor.
Que cena horrenda tenho diante dos meus olhos… As leis proíbem relações sexuais entre um plebeu e a esposa do presidente, eu nunca esperei tal visão. Não sei se você está ciente disso, mas esse horrendo ato de blasfêmia foi transmitido em tempo real para o país inteiro. Não apenas eu testemunhei; toda a nação viu. Presumo que ambos estão conscientes das consequências de suas ações.
O professor permanecia imperturbável.
Supondo que houve uma transmissão de TV enviada para todo o país, tudo o que eu disse neste quarto deve ter sido ouvido e entendido por todos. Isso sem dúvidas prova minha inocência.
Madame Asari, então, saiu de trás do presidente, seu rosto estava vermelho de ódio.
É uma pena, professor, mas apenas suas ações foram exibidas na TV. O áudio da transmissão foi desligado, nem um pio saiu dos alto-falantes. Por isso, duvido que qualquer cidadão saiba o que você estava dizendo.
O quê? Transmitir apenas nossas imagens, mas não as nossas vozes… Você quer que eu acredite em tal absurdo? Com todo respeito, Vossa Excelência, as regulações atuais obrigam que as transmissões de TV sejam acompanhadas por áudio.
A mudança no comportamento do professor Kohak foi drástica, comparado a minutos atrás.
A secretária de Estado riu sem pudor. — As leis são decididas pelo presidente. Se agora ele quisesse alterar a lei para não ser mais necessário a transmissão simultânea de imagem e áudio, sua objeção não teria mais importância alguma. Estou errada? É por isso que me sinto honrada em anunciar que a alteração dessa mesma cláusula foi promulgada hoje. Não é mais ilegal fazer transmissões apenas com imagens.
Eu não irei permitir essa história forjada e depravada de uma suposta relação romântica entre a madame e eu! Qual o motivo dessa calúnia, dessa fraude? Por favor, explique de uma vez.
De pé, o professor Kohak cuspiu as palavras como se cuspisse fogo.
A cor logo desapareceu do rosto barbado do presidente, mas ele ainda assim deu a ordem, com a voz trêmula.
Nada disso importa. Secretária Asari, os dois devem ser executados, como eu já havia decretado. Imediatamente!
Após essa declaração, ele saiu veloz do quarto, logo depois de madame Asari, fechando a porta atrás de si.
A senhora Miruki estava de costas para a parede e, silenciosa, assistia a tudo. Ela tentou escapar do quarto, jogando-se contra a porta, em choque pelo que acabara de acontecer, mas ela, como um muro de aço sólido, não se moveu nem um centímetro.
Por favor, abra a porta! O que você está tentando fazer comigo? Presidente, não era assim que as coisas deveriam acontecer!
A senhora Miruki bateu na porta de modo frenético. Depois, pressionou o botão perto dela diversas vezes, mas ela não deu nenhum sinal de movimento.
Naquele momento, um som sibilante — como de gás vazando de um cano — veio de algum lugar do quarto.
A mulher foi a primeira a identificar o que era esse som. Ela começou a apertar o próprio pescoço com violência.
Não é possível, isso é gás venenoso! Por que você quer me matar? Ugh… por favor abra a… abra a porta.
Com um leve sibilo, o gás cinza e venenoso, concentrado sobre o chão, rodopiava como névoa e subia cada vez mais alto. A área ao redor da traqueia da senhora Miruki logo se transformou em um carmesim profundo. Seus dedos ficaram vermelhos. Gotículas de sangue salpicaram a seda branca em seu peito. Pálida, ela arfava como um fole.
O professor Kohak permaneceu imóvel, como uma figura de argila no meio do gás acinzentado, alheio à agonia da mulher ao seu lado. Ele parecia estar perdido em pensamentos.
De repente, ele começou a se mover, correndo pela sala em círculos, como um esquilo, procurando por algo nas quatro paredes.
Graças a um receptor de TV, o interior do quarto podia ser claramente visto do lado de fora. No receptor montado na parede, via-se a senhora Miruki, em agonia. O professor continuou a correr em círculos, como se houvesse ficado insano.
Olhando atentos para o receptor da TV, estavam o presidente Miruki e a secretária de Estado, madame Asari. Eles assistiam ao desenrolar da cena no quarto, entusiasmados.
Mas logo eles perceberam que algo estava errado: o rosto do professor agora preenchia a tela da TV. A lente do transmissor havia, finalmente, sido descoberta. No instante seguinte, quando o professor levantou uma cadeira acima de sua cabeça, a imagem piscou e se apagou.
De pé na frente do receptor, ambos se revezavam na tentativa de trazer a imagem de volta, mas a tela não voltou a transmitir de novo. O dispositivo encontrado no interior da sala fora completamente destruído.
O presidente Miruki e a grisalha madame Asari se entreolharam.
Não podemos ver nada. O que devemos fazer?
Não precisamos mais assistir. Está óbvio que os dois vão morrer aí dentro.
Não tenho tanta certeza, madame.
Eu não tenho dúvidas.
Assim que ela disse isso, um rugido ensurdecedor veio do aposento onde o gás se espalhava.
Miruki exclamou, surpreso, cobrindo seus ouvidos. — O que está acontecendo lá?
Presidente, rápido, vamos ver o que aconteceu. O professor pode ter quebrado a porta e escapado.
Mas a porta ainda estava intacta. Após discutir a respeito, eles decidiram tentar abrir a porta. Um guarda eletricista ligou a energia do local, para que a porta descesse devagar quando eles apertassem o botão.
Eles correram para dentro do quarto. Parecia que uma grande explosão havia acontecido, não sobrando nada das decorações luxuosas — um grande estado de ruína que doía nos olhos. Braços e pernas foram encontrados aos pedaços no chão. Quando a secretária entrou no quarto para pegar um dos membros, uma chama de repente envolveu o chão com um vush, como se esperasse pela chegada dos dois. Até mesmo a madame Asari — em geral, uma mulher forte e corajosa — ficou petrificada, sem saber como agir naquela situação. Os pedaços de corpos espalhados pelo piso desapareceram nas chamas.
Os corpos da senhora Miruki e do professor Kohak provavelmente se transformaram em fumaça, que já flutuava pelo Setor Aloaa. Mas a fonte da explosão nunca foi encontrada. A única possibilidade que veio à mente deles foi que o professor carregava aquilo consigo. O presidente Miruki não foi capaz de encontrar uma resposta satisfatória do motivo pelo qual Kohak preparou um explosivo e o ativou, suicidando-se no processo.

Juza Unno, in A última transmissão

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