Eu tive um sonho esta noite que não
quero esquecer,
por isso o escrevo tal qual se deu:
era que me arrumava pra uma festa onde eu
ia falar.
O meu cabelo limpo refletia vermelhos,
o meu vestido era de um tom azul, cheio
de panos, lindo,
o meu corpo era jovem, as minhas pernas
gostavam
do contato da seda. Falava-se, ria-se,
preparava-se.
Todo movimento era de espera e aguardos,
sendo
que depois de vestida, vesti por cima um
casaco
e colhi do próprio sonho, pois de parte
alguma
eu a vira brotar, uma sempre-viva
amarela,
que me encantou pelo seu miolo azul, um
azul
de céu limpo sem as reverberações, de
um azul
sem o ‘z’, que o ‘z’ nesta
palavra tisna.
Não digo azul, digo blue, a ideia
exata
de sua seca maciez. Pus a flor no casaco
que só para isto existiu, assim como o
sonho inteiro.
Eu sonhei uma cor.
Agora, sei.
Adélia Prado
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