“Marinheiros, içar ferro! Peito às
barras do cabrestante!”
“Força, meus jovens! Estamos a caminho
de casa!”
A caminho de casa! Música para os
ouvidos! Já esteve a caminho de casa? Não? Rápido! Tome para si as
asas da aurora, ou as velas de um navio, e voe rumo aos mais ermos
pontos da Terra. Neles, permaneça por um ou dois anos; e, então,
que o mais áspero dos contramestres — os pulmões, inteira
rouquidão — grite tais palavras mágicas, e você vai jurar que “a
harpa de Orfeu não era mais encantadora”.
Estava tudo pronto — os botes, içados;
os cabos das varredouras, gornidos; o cabo de ala e larga, abotoado;
as barras do cabrestante, metidas; a escada de portaló, recolhida ao
porão —, e assim, em êxtase, sentamo-nos para a ceia. Na
praça-d’armas, os lugares-tenentes brindavam aos amigos, fazendo
circular o Porto mais envelhecido; no alojamento, os aspirantes se
ocupavam de levantar fundos para liquidar as cobranças da lavanderia
ou — no jargão dos marinheiros — preparavam-se para deixar seus
credores a ver navios. À popa, o capitão mirava a barlavento; e, em
seu amplo e inacessível camarote, o alto e poderoso comodoro
permanecia em silêncio, imponente, como a estátua de Júpiter em
Dodona.
Estávamos todos em nossos melhores e
mais garbosos trajes; os colarinhos do fardamento caíam-nos por
sobre os ombros como faixas de céu azul; nossas sapatilhas
mostravam-se tão leves e alegres que dançávamos sem qualquer
cerimônia enquanto ceávamos.
Era na coberta dos canhões que
estendíamos nossas ceias; ocupando todos os espaços entre as bocas
de fogo; e ali, ao chão, sentados de pernas cruzadas, seria de
imaginar que estávamos rodeados de uma centena de fazendas e
pomares, tal era o alardear de patos, galinhas e gansos e o mugir dos
bois e o balir das ovelhas, cercados, aqui e ali, pelo espaço da
coberta para o repasto marítimo dos oficiais. Mais rurais que navais
eram os sons; a todo o tempo fazendo recordar aos filhos de uma boa
mãe o antigo lar em sua verde paisagem; os velhos e arquejados
olmos; a colina em que brincávamos, e as margens do regato, cobertas
de cevada, em que nos banhávamos.
“Marinheiros, içar ferro!”
Dada a ordem, com que celeridade saltamos
às barras e as empurramos ao redor daquele cabrestante; cada homem
um Golias, cada tendão um cabo de reboque! Girando e girando,
fazendo-o rodar como uma esfera, marcando com os pés o tempo ao som
do pífaro, até que o cabo atingiu a tensão máxima, e o navio
apontando a proa ao mar.
“Alar e aguentar o socairo! Recolher
barras e fazer-se à vela!”
Assim se fez: os homens às barras do
cabrestante, os responsáveis pelos michelos, os que aduchavam e os
que deixavam correr os cabos, e os que nada faziam, apinhando-se
escada acima rumo às adriças e estais; enquanto, como macacos
trepados em palmeiras, os homens que desferravam as velas
atravessavam céleres aqueles imensos galhos, nossas vergas; e assim
descíamos panos como as nuvens brancas do etéreo — velas de
gávea, joanetes e sobrejoanetes; e para longe corríamos com as
adriças, até que todos os panos se desfraldassem.
“Outra vez ao cabrestante!”
“Alar, meus valentes homens! Alar a
valer!”
Com um tranco e um solavanco, começamos
a ganhar terreno; e por nossa proa subiram os muitos milhares de
quilos de aço velho sob a forma de uma imensa âncora.
Onde estava Jaqueta Branca na ocasião?
Jaqueta Branca estava em seu devido
lugar. Foi Jaqueta Branca quem, no mastro principal, desferrou a vela
de sobrejoanete grande, ali, tão alta, que mais parecia a asa branca
de um albatroz. E foi o próprio Jaqueta Branca quem confundiram com
tal ave, enquanto ele percorria célere o vertiginoso lais de verga!
Herman Melville, in Jaqueta Branca
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