sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Um menino perdido na noite

Já meio adormecido, eu ouvia uma voz que vinha da rua. Voz de menino. “Olha os pastéis, de carne e de queijo...” . Sozinho na rua vazia ele vendia pastéis que sua mãe fizera. Para quem, se nas ruas não havia ninguém? Era como nas estórias: havia sempre um bom menino perdido. Ele me fazia lembrar o menino da mata. Imaginava-me no seu lugar, anunciando pastéis a um mundo adormecido. E toda noite acontecia o mesmo, ele passava com o mesmo anúncio triste: “Olha os pastéis, de carne e de queijo...” . A voz triste daquele menino me marcou. Continuo a ouvi-la.

Rubem Alves, in O velho que acordou menino

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