Nosso Escriturário Chefe ficou louco.
Quando eu cheguei hoje no escritório ele me chamou para a sua sala e
disse o seguinte: “Olha aqui, meu amigo, o que você tem na
cabeça?”
“O que? Como? Nada demais”, eu
respondi.
“Pense bem. Você já passou dos
quarenta; é hora de ser razoável. Está pensando o quê? Acha que
eu não conheço todos os seus truques? Você está tentando cortejar
a filha do Diretor? Olhe para si mesmo e veja o que você é! Um
insignificante, nada mais. Eu não daria um tostão por você. Se
olhe no espelho. Como você pode ter uma ideia dessas com um rosto de
caricatura desses?”
Ele que vá para o Diabo! Só por que a
cara dele parece um pote de remédios, por que ele tem uma moita
crespa no lugar de cabelos na cabeça, e às vezes a penteia para
cima, e às vezes a cola para baixo em vários penteados esquisitos,
ele pensa que pode tudo. Eu sei bem, eu sei por que ele ficou bravo
comigo. Ele tem inveja; talvez ele tenha percebido os favores que eu
graciosamente tenho recebido. Mas por que eu me importaria com ele?
Um mero escriturário! Que tipo de animal importante é esse? Ele usa
uma corrente de ouro em seu relógio, compra para si botas de trinta
rublos o par; para o diabo com ele! Seria eu o filho de um reles
alfaiate ou de outra origem obscura? Eu sou um nobre! Eu também
posso subir na vida. Eu tenho apenas quarenta e dois anos – uma
idade em que a verdadeira carreira de um homem geralmente está
começando. Espere um momento, meu amigo! Eu também posso chegar a
um cargo de supervisor; ou talvez, com a graça de Deus, até mais
alto. Eu terei um nome que superará em muito o seu. Você acha que
não há outros homens capazes além de você? Eu só preciso
encomendar um casaco da moda e usar uma gravata como a sua, e você
será eclipsado.
Mas eu não tenho dinheiro – essa é a
pior parte!
Nikolai Gogol, in Diário de um louco
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