terça-feira, 31 de agosto de 2021

Esta gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco.

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis.

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre.

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome.

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada.

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Nenhum comentário:

Postar um comentário