O que do tempo desfolha,
em vagar de tumba,
na palma da sua mão tomba.
Deitado no mundo,
nem olha as nuvens:
a pressa dos céus
cansa-lhe a retina.
Do sol não se arreda:
sombras são móveis,
nem vale mudar de assento.
E quando chove
nem se desvia:
gotas nunca são tantas, por si mesmas se
enxugam.
Sendo noite,
dispensa sonho:
acordar é mais árduo em sonhadora
noite.
À amada confessa: príncipe, me dizes.
Eu me prefiro sapo sem beijo
e, no charco baldio,
quedar-me ensopado e vadio.
Namorar pede pulsação.
Eu quero o sono de quem dorme.
Dormir talvez seja demais.
Dormir sem verbo:
ser dormido.
Mia Couto
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