As três irmãs conversavam em binário
lentíssimo.
A mais nova disse: tenho um abafamento
aqui,
e pôs a mão no peito.
A do meio disse: sei fazer umas
rosquinhas.
A mais velha disse: faço quarenta anos,
já.
A mais nova tem a moda de ir chorar no
quintal.
A do meio está grávida.
A mais cruel se enterneceu por plantas.
Nosso pai morreu, diz a primeira,
nossa mãe morreu, diz a segunda,
somos três órfãs, diz a terceira.
Vou recolher a roupa do quintal, fala a
primeira.
Será que chove?, fala a segunda.
Já viram minhas sempre-vivas?, falou a
terceira,
a de coração duro, e soluçou.
Quando a chuva caiu ninguém ouviu os
três choros
dentro da casa fechada.
Adélia Prado
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