O
amor sobressaltava em mim. Prosperava sem medo e veio sair pelos
olhos, nariz, ouvidos, jamais pela palavra. Investi, sem medida, no
verbo amar e me vi mudo. Minha boca não exalava palavras. Beijar era
minha espuma, meu mar, meu batismo. Discordava do céu como a
suavidade suprema. Quando as bocas se entretinham debaixo do assoalho
do porão, o paraíso se anunciava. Pela boca o amor me devorava. Não
projetava outro céu. O amor apaziguava minhas águas.
O
medo da solidão pode nos tornar acessíveis, recomendava a mãe.
Impor-se atento diante da solidão é questão de prudência. Quando
a sede avança podemos beber da água do poço mais próximo, por
concessão. É sensato sustentar a sede e alcançar a mina. Eu
ansiava pelas primeiras águas, atravessando imenso deserto.
Bartolomeu Campos de Queirós, in Vermelho Amargo
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