A ciência origina uma grande sensação
de prodígio. Mas a pseudociência também. As popularizações
dispersas e deficientes da ciência deixam uns nichos ecológicos que
a pseudociência se apressa a encher. Se chegasse a entender
amplamente que qualquer afirmação de conhecimento exige provas
pertinentes para ser aceita, não haveria lugar para a pseudociência.
Mas, na cultura popular, prevalece uma espécie de lei de Gresham
segundo a qual a má ciência produz bons resultados.
Em todo mundo há uma enorme quantidade
de pessoas inteligentes, inclusive com um talento especial, que se
apaixonam pela ciência. Mas não é uma paixão correspondida. Os
estudos sugerem que noventa e cinco por cento dos americanos são
“analfabetos cientistas”. É exatamente a mesma fração de
afro-americano analfabetos, quase todos os escravos, justo antes da
guerra civil, quando se aplicavam severos castigos a quem ensinasse a
ler a um escravo. Certamente, nas cifras sobre analfabetismo há
sempre certo grau de arbitrariedade, tanto se aplica à linguagem
como à ciência. Mas um noventa e cinco por cento de analfabetismo é
extremamente grave.
Carl Sagan, in O mundo assombrado pelos demônios: A ciência vista como uma vela acesa no escuro
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