sexta-feira, 18 de junho de 2021

Acerca da pseudociência

A ciência origina uma grande sensação de prodígio. Mas a pseudociência também. As popularizações dispersas e deficientes da ciência deixam uns nichos ecológicos que a pseudociência se apressa a encher. Se chegasse a entender amplamente que qualquer afirmação de conhecimento exige provas pertinentes para ser aceita, não haveria lugar para a pseudociência. Mas, na cultura popular, prevalece uma espécie de lei de Gresham segundo a qual a má ciência produz bons resultados.
Em todo mundo há uma enorme quantidade de pessoas inteligentes, inclusive com um talento especial, que se apaixonam pela ciência. Mas não é uma paixão correspondida. Os estudos sugerem que noventa e cinco por cento dos americanos são “analfabetos cientistas”. É exatamente a mesma fração de afro-americano analfabetos, quase todos os escravos, justo antes da guerra civil, quando se aplicavam severos castigos a quem ensinasse a ler a um escravo. Certamente, nas cifras sobre analfabetismo há sempre certo grau de arbitrariedade, tanto se aplica à linguagem como à ciência. Mas um noventa e cinco por cento de analfabetismo é extremamente grave.

Carl Sagan, in O mundo assombrado pelos demônios: A ciência vista como uma vela acesa no escuro

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