O pai achou que o filho já estava na
idade para terem a tal conversa. Encontrou o menino brincando
com um amiguinho e convidou os dois para uma caminhada. Começou com
a agricultura. O agricultor, meu filho, coloca uma semente na terra,
a semente cresce e se transforma em planta. Com os animais é a mesma
coisa. O macho coloca uma semente na fêmea, a semente cresce etc.
Com as pessoas também é assim. É por isso que nós temos órgãos
sexuais, e o do homem é diferente do da mulher. O papai colocou uma
sementinha na barriga da mamãe, a sementinha cresceu e você nasceu.
Para que o amiguinho não se sentisse
desprezado, o pai acrescentou: — Com seu pai e sua mãe também foi
assim.
Os dois meninos estavam
interessadíssimos. Foi uma caminhada longa, durante a qual o pai não
parou de falar. Como o pai sabia de coisas!
Para tudo que os meninos perguntavam
sobre sexo o pai tinha uma resposta. Eta, pai!
— E os buracos negros, pai?
— Que buracos negros?
— Os buracos negros do Universo.
— Isso não tem nada a ver com sexo.
— Eu sei, mas como é que eles são?
— Ah, bom. Olha, sobre isso eu não sei
muita coisa, não.
— E, pai, como é essa história de
supercondutores?
— Não sei bem.
Mas o menino continuava entusiasmado. Era
o dia de saber de coisas.
— Pai, por que as ondas de rádio
acompanham a curvatura da Terra e as ondas de TV não?
— É porque, sei lá. Devem ser ondas
diferentes.
O menino já estava desanimado.
— Como é que funciona relógio
digital?
— Não sei, meu filho.
Chegaram em casa e o pai perguntou: —
Mais alguma pergunta sobre sexo?
Eles não tinham mais nenhuma pergunta
sobre sexo e o pai foi embora.
Os dois meninos ficaram em silêncio.
Então, um disse:
— Que crânio o meu pai, hein? Sabe
tudo.
O amigo fez cara de pouco caso, lembrando
todas as perguntas sem resposta. Mas o outro tinha a explicação.
— É que ele se especializou só nisso.
Luís Fernando Veríssimo, in O santinho
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