Desde minha fuga, era calando minha
revolta (tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha
raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se
acaso distraído eu perguntasse “para onde estamos indo?” — não
importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito
novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando,
me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de
ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho,
um osso rigoroso, desprovido de qualquer dúvida: “estamos indo
sempre para casa”.
Raduan Nassar, in Lavoura Arcaica
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