— Professora, sabe sexo explícito?
Pronto, pensou a professora. Chegou a
hora. A turma ainda não estava na idade para educação sexual, mas
quem sabe qual é a idade, hoje em dia?
— Professora, sabe sexo explícito?
— Eu já ouvi, Maurício. É sobre isso
que nós vamos conversar hoje.
— Mas, professora...
— Senta, Maurício.
O menino estava impaciente. Ela entendia.
Todos deviam estar impacientes. O sexo estava por toda parte. Era
natural a curiosidade deles.
Mesmo naquela idade.
— Todos sabem o que é uma planta, não
sabem? Agora eu quero o nome de uma planta. Judite?
— Flor — disse a Judite.
— Muito bem. E que tipo de flor?
— Rosa! — apressou-se a dizer a Rosa.
— Muito bem. Eu vou desenhar uma rosa.
E a professora desenhou uma semente.
— Isto parece uma rosa?
— Não senhora.
— Claro que não. Isto é uma semente.
É o começo da rosa. Toda plantinha começa com uma semente. Alguém
bota uma semente na terra e a plantinha vai crescendo, vai
crescendo...
— Professora…
— O que é, Maurício?
— Sabe sexo explícito?
— Espera um pouquinho, Maurício. Nós
já chegamos lá.
— Mas, professora...
— Senta, Maurício.
— Mas...
— Senta!
— Tá bem.
E o menino sentou, com cara de mártir.
— Primeiro tem a semente. Depois a
plantinha vai nascendo da semente. Vocês também começaram de uma
sementinha, como esta. Dentro da barriga da mamãe. E quem foi que
botou a sementinha na barriga da mamãe? Alguém sabe?
— Foi o meu pai — disse o Maurício.
— Mas, professora...
— Foi o papai, certo. Vejo que essa
parte vocês já sabem. E como é que o papai põe a sementinha na
barriga da mamãe? Quem sabe?
Silêncio.
— Professora...
— O que, Maurício...
— Nós sabemos tudo isso.
— Tudo?
— Tudo — confirmou a Rosa.
— Sabe sexo explícito? — insistiu o
Maurício.
— Sei — disse a professora,
desconfiada. — Que que tem sexo explícito?
— Passarinho faz sexo expíucito.
— Como é?
— Expíucito. Passarinho faz sexo
expíucito.
Por um longo tempo, enquanto as crianças
riam, a professora ficou paralisada. Depois apagou a semente do
quadro-negro e disse para todo mundo pegar lápis colorido e desenhar
uma paisagem bem bonita.
Luís Fernando Veríssimo, in O santinho
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