segunda-feira, 29 de março de 2021

Sementinhas

Professora, sabe sexo explícito?
Pronto, pensou a professora. Chegou a hora. A turma ainda não estava na idade para educação sexual, mas quem sabe qual é a idade, hoje em dia?
Professora, sabe sexo explícito?
Eu já ouvi, Maurício. É sobre isso que nós vamos conversar hoje.
Mas, professora...
Senta, Maurício.
O menino estava impaciente. Ela entendia. Todos deviam estar impacientes. O sexo estava por toda parte. Era natural a curiosidade deles.
Mesmo naquela idade.
Todos sabem o que é uma planta, não sabem? Agora eu quero o nome de uma planta. Judite?
Flor — disse a Judite.
Muito bem. E que tipo de flor?
Rosa! — apressou-se a dizer a Rosa.
Muito bem. Eu vou desenhar uma rosa. E a professora desenhou uma semente.
Isto parece uma rosa?
Não senhora.
Claro que não. Isto é uma semente. É o começo da rosa. Toda plantinha começa com uma semente. Alguém bota uma semente na terra e a plantinha vai crescendo, vai crescendo...
Professora…
O que é, Maurício?
Sabe sexo explícito?
Espera um pouquinho, Maurício. Nós já chegamos lá.
Mas, professora...
Senta, Maurício.
Mas...
Senta!
Tá bem.
E o menino sentou, com cara de mártir.
Primeiro tem a semente. Depois a plantinha vai nascendo da semente. Vocês também começaram de uma sementinha, como esta. Dentro da barriga da mamãe. E quem foi que botou a sementinha na barriga da mamãe? Alguém sabe?
Foi o meu pai — disse o Maurício. — Mas, professora...
Foi o papai, certo. Vejo que essa parte vocês já sabem. E como é que o papai põe a sementinha na barriga da mamãe? Quem sabe?
Silêncio.
Professora...
O que, Maurício...
Nós sabemos tudo isso.
Tudo?
Tudo — confirmou a Rosa.
Sabe sexo explícito? — insistiu o Maurício.
Sei — disse a professora, desconfiada. — Que que tem sexo explícito?
Passarinho faz sexo expíucito.
Como é?
Expíucito. Passarinho faz sexo expíucito.
Por um longo tempo, enquanto as crianças riam, a professora ficou paralisada. Depois apagou a semente do quadro-negro e disse para todo mundo pegar lápis colorido e desenhar uma paisagem bem bonita.

Luís Fernando Veríssimo, in O santinho

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