Quando me perguntam por que não aderi a
essa história de “estória”, respondo (e não evasivamente) que
é simplesmente porque, para mim, tudo é verdade mesmo. Acredito em
tudo. Acreditar no que se lê é a única justificativa do que está
escrito. Ai do autor que não der essa impressão de verdade! Que é
uma história? É um fato — real ou imaginário — narrado por
alguém. O contador de histórias não é um contador de lorotas. Ou,
para bem frisar a diferença, o contador de histórias não é um
contador de estórias. E depois, por que hei de escrever “estória”
se eu nunca pronunciei a palavra desse modo? Não sou tão analfabeto
assim. Parece incrível que talvez a única sugestão infeliz do
mestre João Bibeiro tenha pegado por isso mesmo... Também um dia
parece que Eça de Queirós se distraiu e o Conselheiro Acácio, por
vingança, lhe soprou esta frase pomposa: “Sobre a nudez forte da
verdade, o manto diáfano da fantasia.” Tanto bastou para que lhe
erguessem um monumento, com a citada frase perpetuada em bronze!
Pobre Eça...
O mundo é assim.
Mário Quintana, in Caderno H
Nenhum comentário:
Postar um comentário