Os Contreras sofreram na vida como
poucos. Já não são mais tão pobres, mas o pouco que têm
conquistaram à base de muito trabalho e suor. Erram, como todos, mas
agem de acordo com suas convicções. Lauro Contreras acabou se
precipitando nalgumas atitudes e pagou caro por isso.
Ninguém o conheceu tão bem quanto seu
mentor e padrinho, o senhor Aparício da Silva Bueno. Talvez nem o
próprio Lauro venha a entender a sua história tão bem quanto este
homem, dono dos campos onde ele ergueu seu rancho.
Lauro Contreras apareceu na Estância do
Silêncio quando sua mãe, Pitanga, uma mulata com pouco mais de
vinte anos, foi contratada para ser cozinheira do lugar. Ela chegou
somente com a roupa do corpo e o menino de cinco anos pelas mãos.
Dona Amélia, senhora da casa, achou a
moça muito nova e bonita para trabalhar na estância. Mas já estava
decidido. Restou à mulher apenas assentir ao desejo do marido.
O fato é que o guri era muito esperto e
logo passou a ser chamado de afilhado pelos patrões, que lhe
dedicavam especial atenção. Aparício Bueno tivera três filhas,
mas jamais aceitara o fato de sua esposa não ter lhe dado um filho
macho. Assim, Lauro virou um filho de estimação ou coisa parecida:
— Guri, vai lá na cozinha e me trás
um chimarrão. — ordenava Aparício, do alto de seus um metro e
oitenta. O menino, de pernas finas, corria para agradar ao homem que,
pensativo, analisava-o.
Anos antes, conhecera por acaso a mulata
Pitanga, e a rapariga não tinha nem completado dezesseis anos.
Passava por um rancho de beira de estrada e viu aquela morena, de
corpo rijo e seios provocadores, que pareciam querer rasgar o tecido
do vestido simples, a encará-lo, enquanto cuidava para ver se
ninguém se aproximava.
— Buenas, moça.
Ela não respondeu.
— Posso apear?
Mais uma vez se fez o silêncio. Aparício
apeou do cavalo e investiu contra a jovem, já não se aguentando de
tanto desejo. O beijo foi correspondido, e os dois foram cegos para
dentro da casa. No caminho, deixaram a porta aberta, as roupas no
chão e foram logo se atirando à cama da jovem.
Aparício e Pitanga entregaram-se ao
desejo inocente e avassalador que tomou conta dos dois naquela noite.
Adormeceram abraçados. Quando ela acordou, o nariz do homem passeava
pelo seu corpo, sentindo seus cheiros e acariciando sua carne.
— Onde estão teus pais?
— Meu pai é morto. Minha mãe está
numa parente. Deve chegar logo — respondeu, com sua voz rouca e
aveludada.
Encarou aqueles olhos pretos e passou as
mãos pelos cabelos crespos da menina. Puxou-a ao seu encontro e fez
amor com ela mais uma vez, com uma raiva que não sabia explicar de
onde. Pitanga aceitava a tudo submissa, entregue às suas paixões e
desejos íntimos.
Aparício da Silva Bueno vestiu suas
roupas, atirou alguns trocados para a menina e montou no seu cavalo.
— Daqui uns dias eu volto, morocha —
disse isso e foi embora.
Sequer olhou para trás. Mal sabia ele
que amaria aquela menina até o fim de seus dias.
— Teu mate, padrinho. — escutou a voz
do menino e parou com seus devaneios.
Lauro oferecia-lhe o mate. E não era
fato que aquele guri era bem parecido com ele? Pensando nisso,
acariciou a cabeleira da criança e voltou para seus afazeres.
R. Tavares, in Andarilhos
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