quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Os asnos por testemunhas

          Havia em Meca um homem cuja atividade era promover encontros entre homens e mulheres e levar-lhes bebida. Foi denunciado ao delegado da cidade, que o expulsou para o monte Arafat. Então ele construiu sua casa naquele monte e enviou a seguinte mensagem para seus amigos:
O que os impede de continuar fazendo o que fazíamos antes?
Eles responderam:
Como ir até você, se está no monte Arafat?
Ele respondeu:
Basta alugar um asno por uma moeda de prata e vocês chegarão aqui em segurança e passearão.
Eles assim agiram: passaram a servir-se de asnos para ir até lá, e tanta gente foi que a juventude de Meca começou a se corromper. Então, os pais tornaram a se queixar ao governador da cidade, que mandou recolher o homem. Diante do governador, ele disse:
Todos mentem contra mim, que Deus melhore o comandante!
Disseram:
Para provar o que dizemos, basta reunir os asnos de Meca e levá-los acompanhados de fiscais até o monte Arafat; lá, basta soltá-los e todos os asnos se dirigirão à casa dele, conforme se tornou o seu hábito quando são montados pelos desavergonhados! Isso provará que não estamos mentindo.
O governador disse:
Eis aí uma prova e um testemunho justos.
E ordenou que os asnos de aluguel da cidade fossem reunidos e soltos no monte Arafat. Todos foram diretamente para a casa do homem, sem que ninguém os conduzisse. Os fiscais avisaram o governador do fato, e ele disse:
Não é preciso mais nada. Dispam-no para ser chicoteado!
Quando viu o carrasco, o homem perguntou ao governador:
Que Deus lhe dê prosperidade! É mesmo necessário que eu seja chicoteado?
O governador respondeu:
Sim!
O homem disse:
Por Deus que o que mais me dói é que o povo do Iraque zombe de nós e ria às nossas custas dizendo: o povo de Meca considera lícito o testemunho dos asnos!
Então o governador riu e o libertou.

Mamede Mustafa Jarouche (trad.), in Histórias para ler sem pressa

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