De dorso curvo e olhar aceso,
troto as avenidas neutras
atrás da sombra que me inculcas.
Esta sombra que se confunde
com as mulheres gordas e magras,
entra numa porta, sai por outra
como nos filmes americanos,
e reaparece olhando as vitrinas.
Meu olhar desnuda as passantes.
Às vezes um bico de seio
vale mais que o melhor Baedeker.
Mas onde seio para minha sede?
O andar, a curva de um joelho,
vinco de seda no quadril
(não sabia quanto eras pura),
faço a polícia dos dessous.
Eu sei que o êxtase supremo,
o looping no céu espiritual
pode enredar-se, malicioso,
no que as mulheres mais (?) escondem
no que meus olhos mais indagam.
O dia se emenda com a noite
As mulheres vão para a rua
mas a mulher que tu me destinas
talvez ainda esteja em Peiping.
Desiludido ainda me iludo.
Namoro a plumagem do galo
no ouro pérfido do coquetel.
Enquanto as mulheres cocoricam
os homens engolem veneno.
E faço este verso perverso
inútil, capenga e lúbrico.
E possível que neste momento
ela se ria de mim
aqui, ali ou em Peiping.
Ora viva o amendoim.
Carlos Drummond de Andrade
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