segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Despedida

          Dias depois, Pedro Guarany também apertava os arreios do seu pingo. Muito embora estivesse gostando da rotina na venda, teria que partir. Sabia que João Fôia estava pelas redondezas em busca de serviço e já não se sentia seguro. Estava nublado e abafado. Prenúncio de chuvarada. Atou o violão bem firme para não cair. Já estava com o pagamento pelo serviço escondido na guaiaca. Deu uma última caminhada, despediu-se dos animais e, por fim, foi dar adeus ao velho Geraldo.
Gracias pela ajuda, guri — disse o pulpero.
Quando Pedro Guarany lhe estendeu a mão para a despedida, foi surpreendido pelo abraço fraternal do outro que, com os olhos marejados, encarou aquele visitante, a quem já queria como um filho.
Quando cansar da estrada, volta aqui pra minha casa para seguirmos nossas conversas e me ajudares. Por aqui, sempre tem o que fazer.
Constrangido pela demonstração de afeto, Pedro não conseguiu agradecer como queria. As palavras ficaram trancadas em sua garganta. Mesmo assim, Geraldo entendeu tudo.
Pedro vestiu seu poncho e desabou as abas do sombreiro.
Hasta siempre, amigo! — gritou, antes de esporear seu cavalo e partir rumo ao horizonte que trovejava.

R. Tavares, in Andarilhos

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