Na semana que vem eu completo 28 anos.
Antes que alguém diga: eu sei que estou a léguas de distância de
estar “velha”. Eu sei que (se Deus quiser) não estou nem perto
da metade da minha vida. Eu sei, eu sei, eu sei.
Mas o fato é que as coisas mudaram. E
talvez essa minha adorável faixa etária seja exatamente aquela na
qual a gente se dá conta, pela primeira vez, de que o tempo passa. E
passa rápido. A diferença entre os 10 e os 20 é muito maior do que
a diferença entre os 20 e os 30. Mas aos 20 a gente simplesmente nem
pensa nisso. Já aos 30…
Na sexta passada, enquanto sentia meu
sofá me puxar como areia movediça, batalhava para aceitar a ideia
de colocar um vestido preto, um sapato de salto e ir para uma festa.
E então comecei a pensar em algumas diferenças entre os 20 e os 30.
Tudo começa com a nossa visão sobre as
noites de sexta, sábado e vésperas de feriado:
Aos 20: MEU DEUS, sexta-feira e eu não
tenho nada marcado à noite, socorro, como assim, gente? Preciso
marcar alguma coisa urgentemente.
Aos 30: MEU DEUS, sexta-feira e eu tenho
uma festa que começa dez da noite, socorro, como assim, gente?
Preciso arranjar uma desculpa urgentemente.
É assim. Por isso a gente diz que se
sente velho. Lembrei de um sentimento parecido que tive na Páscoa
desse ano.
Aos 20 na Páscoa: sair no sábado à
noite, beber vodca barata, comer dogão, deitar 5h30, acordar bem
para o almoço de Páscoa, ganhar um milhão de chocolates, comer
horrores, cochilar à tarde, pensar em sair à noitinha.
Aos 30 na Páscoa: comer um peixe no
sábado à noite, deitar 23h30, fazer uma corrida no domingo de
manhã, tomar uma taça de vinho no almoço, comer dois bombons,
sentir culpa, sentir azia, sentir que vai morrer, olhar para a
propaganda do Gaviscon, sonhar com um Gaviscon.
A questão dos medicamentos para azia e
má digestão que atuam na sua vida também é interessante.
Aos 20: oi?
Aos 30: Eparema, Engov, Mylanta Plus, Eno
Limão, Eno Guaraná, Eno Abacaxi, Eno normal, Luftal, Omeprazol,
Gaviscon, Estomazil, Epocler, Maalox, Peptozil, Magnésia Bisurada.
As idas à farmácia mudam. As idas ao
supermercado mudam.
Aos 20: preciso passar no mercado para
comprar coisas para levar numa festa.
Aos 30: preciso passar no mercado para
ter coisas para comer, para não precisar comer em uma festa.
As festas, por sinal, mudaram
completamente.
Aos 20: aniversários e despedidas de
amigos que iam morar fora. Festas em bares com música alta, baladas
que começavam à meia-noite ou churrascos que duravam 12 horas.
Aos 30: chá de uma porrada de coisa. Chá
de bebê, chá de cozinha, chá de lingerie, chá bar. Quase todos
começando às 17h. Aniversários agora são em lugares em que a
gente possa sentar e não costumam durar mais de três horas. Deus é
grande. Guardamos nossa energia do bimestre para algum casamento (do
qual teremos ressaca por cinco dias – além da dor na panturrilha
porque descemos até o chão – “Onde eu estava com a cabeça?”).
A noção de criança muda.
Aos 20: crianças são os meus primos e
os irmãos mais novos dos meus amigos, não tenho nada a ver com
isso.
Aos 30: crianças são filhos dos meus
amigos, filhos dos meus irmãos e eu acho que semi tenho a ver com
isso.
Anteontem passei no shopping, entrei numa
loja “jovem” e a história foi mais ou menos assim:
Aos 20: nossa, que FOFA essa blusinha de
20 reais! Vou levar para usar no feriado.
Aos 30: gente, como veste isso? A cabeça
entra aonde? Fica barriga de fora? Então não. Melhor pegar esses 20
reais, juntar mais um pouco e comprar um vinho pro feriado.
A convivência com o álcool muda TIPO
MUITO.
Aos 20: ANIMAL, a festa é open bar de
cerveja, vodca com refrigerante, jurupinga e catuaba, vai ser MUITO
BOA.
Aos 30: eu vou FALECER se for nessa
festa.
E quando você chega às festas:
Aos 20: noooossa, vários gatinhos(as),
mó bom esse DJ, adoro essa música do Avicii, vamos até o bar.
Aos 30: nossa, eles não pedem documento
pra essa molecada? Impossível eles terem 18. Tem onde sentar? Quem
está cantando? Ariana o quê? Grande?
Mas, pessoas de 20, não pensem que é
ruim. Quer dizer, a parte da azia e da má digestão é bem ruim,
sim, mas algumas coisas vão ficando bem melhores.
Várias séries. Poucas filas de baladas.
Vários sofás. Poucas pessoas vomitando perto de você. Vários
edredons. Pouca fumaça de cigarro. Vários vinhos. Pouca Smirnoff.
Vários filmes. Pouca fila de banheiro. Vários pijamas lindos. Pouca
saia curta com frio nas pernas. Vários livros. Poucas caixas de som
fazendo tum-tum-tum. Vários queijos. Poucos dogões prensados.
Vários travesseiros. Váááááários travesseiros. É uma coisa
maravilhosa, vai por mim. Fora a azia e a má digestão.
P.S.: Completei 29 anos em 2017 e
subitamente comecei a dormir no meio das séries, mesmo que ainda
sejam 21h30. Para ser sincera, não sei o que esperar do futuro.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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