A minhoca, que não era maior do que um
dedo mindinho, comia corações de pássaros. Seu pai era o melhor
caçador da aldeia dos mosetenes.
A minhoca crescia. De repente, teve o
tamanho de um braço. Cada vez exigia mais corações. O caçador
passava o dia inteiro na selva, matando para seu filho.
Quando a serpente não cabia mais na
choça, a selva tinha ficado vazia de pássaros. O pai, flecha
certeira, ofereceu-lhe corações de jaguar.
A serpente devorava e crescia. Já não
havia jaguares na selva.
– Quero corações humanos – disse a
serpente.
O caçador deixou sem gente a sua aldeia
e as comarcas vizinhas até que um dia, em uma aldeia distante, o
surpreenderam no galho de uma árvore e o mataram.
Acossada pela fome e pela saudade, a
serpente foi buscá-lo.
Enroscou seu corpo em torno da aldeia
culpada, para que ninguém pudesse escapar. Os homens lançaram todas
as suas flechas contra aquele anel gigante que os havia sitiado.
Enquanto isso, a serpente não deixava de crescer.
Ninguém se salvou. A serpente resgatou o
corpo de seu pai e cresceu para o alto.
E lá se vê, ondulante, eriçada de
flechas luminosas, atravessando a noite.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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