O sol não deixava nunca de iluminar e os
índios cashinahua não conheciam a doçura do descanso.
Muito necessitados de paz, exaustos de
tanta luz, pediram ao rato que emprestasse a noite.
Fez-se a escuridão, mas a noite do rato
bastou apenas para comer e fumar um pouco em frente do fogo. O
amanhecer chegou e os índios mal haviam deitado sem suas redes.
Provaram então a noite do tapir. Com a
noite do tapir, puderam dormir um sono solto e desfrutaram o sonho
tão esperado. Mas quando despertaram, tinha passado tanto tempo que
as ervas do monte haviam invadido seus cultivos e esmagado suas
casas.
Depois de muito buscar, ficaram com a
noite do tatu. Pediram essa noite emprestada e não a devolveram
jamais.
O tatu, despojado da noite, dorme durante
o dia.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário