segunda-feira, 26 de outubro de 2020

A noite

         O sol não deixava nunca de iluminar e os índios cashinahua não conheciam a doçura do descanso.
Muito necessitados de paz, exaustos de tanta luz, pediram ao rato que emprestasse a noite.
Fez-se a escuridão, mas a noite do rato bastou apenas para comer e fumar um pouco em frente do fogo. O amanhecer chegou e os índios mal haviam deitado sem suas redes.
Provaram então a noite do tapir. Com a noite do tapir, puderam dormir um sono solto e desfrutaram o sonho tão esperado. Mas quando despertaram, tinha passado tanto tempo que as ervas do monte haviam invadido seus cultivos e esmagado suas casas.
Depois de muito buscar, ficaram com a noite do tatu. Pediram essa noite emprestada e não a devolveram jamais.
O tatu, despojado da noite, dorme durante o dia.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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