domingo, 4 de outubro de 2020

A chuva

Na região dos grandes lagos do norte, uma menina descobriu de repente que estava viva. Assombrada com o mundo abriu os olhos, e partiu para a aventura.

Perseguindo as pegadas dos caçadores e dos lenhadores da nação menomini, chegou a uma grande cabana de troncos. Ali viviam dez irmãos, os pássaros do trovão, que lhe ofereceram abrigo e comida.

Certa manhã ruim, enquanto a menina colhia água do manancial, uma serpente peluda agarrou-a e levou-a para as profundidades de uma montanha de pedra. As serpentes estavam a ponto de devorá-la quando a menina cantou.

De muito longe, os pássaros do trovão escutaram o chamado. Atacaram com o raio a montanha de pedra, resgataram a prisioneira e mataram as serpentes.

Os pássaros do trovão deixaram a menina na forquilha de uma árvore.

Aqui viverás – disseram. – Viremos cada vez que cantes.

Quando a rãzinha verde da árvore canta chamando, os trovões acodem e chove sobre o mundo.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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