e
esqueceu o brinde.
No
avô,
suspendeu
a família o ansioso olhar,
mas
palavra e gesto lhe quedaram imóveis,
morcegos
presos
no
último teto do mundo.
Parecia
que iria ficar assim
o
resto da vida:
à
espera de um motivo para brindar.
E
nessa espera
demoraria
o tempo todo.
Quando
já morto,
tentassem
tirar-lhe o cálice,
não
seria possível abrir-lhe os dedos.
Levaram
o avô
para
o quarto,
e
deixaram-no só, no escuro,
para
que adormecesse.
O
avô está cansado,
disseram.
E,
deste modo,
a
si mesmos se descansaram.
O
velho sorriu,
em
seu enrugado rosto
desenhou
a taça da malícia:
o
que ele queria
era
o instante do tempo inteiro.
Não
entenderam os parentes:
calado,
ele não estava calado.
A
sua palavra
de
nenhuma voz carecia.
De
si para si, murmurou:
só
amei o que tinha fim
e
tudo que amei se eternizou.
Depois,
adormeceu.
Aos
parentes,
para
sempre escapou
a
razão do suspenso brinde.
Ninguém
sabe falar a quem ama.
Apenas
no silêncio
o
amor
se
diz e escuta.
Mia
Couto
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