domingo, 27 de setembro de 2020

A última palavra

Mallarmé tinha o sonho de escrever um livro com uma palavra só. Achei-o louco. Depois compreendi. Para escrever um livro assim, de uma palavra só, seria preciso ter-se tornado sábio, infinitamente sábio. Tão sábio que soubesse qual é a última palavra, aquela que permanece solitária, depois que todas as outras se calaram. Mas isso é coisa que só a Morte ensina. Mallarmé certamente era seu discípulo. Minha última palavra será: “É bom viver...”

Rubem Alves, in Do universo à jabuticaba

Nenhum comentário:

Postar um comentário