Há
um tipo de choro bom e há outro ruim. O ruim é aquele em que as
lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só
esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse
choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se
está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não
vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É
difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de
empalidecer.
Mas
nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a
nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza
legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam
pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de
nossa dor mais profunda.
Homem
chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil.
Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.
Clarice
Lispector, in Todas as crônicas
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