A
máquina de fazer versos foi invenção de um moço do Pará, que
levou cinco anos para torná-la perfeita. Os poetas locais e do país
protestaram contra a novidade, alegando que a poesia é negócio de
deuses, e baixa para cada um em hora imprevisível.
Estácio,
o inventor, nem ligou. Produzia sonetos, baladas, rondéis, haicais,
martelos agalopados, vilancicos, da melhor fatura.
Quem
desejasse assumir a autoria de um poema encomendava-o a Estácio e,
sob sigilo, era atendido. Cobrava caro. Os clientes ganhavam prêmios
acadêmicos e distinções várias, justificando a tabela. Em
dezembro, os negócios atingiam o ápice.
Junho
era mês de renovação de estoque, para poetas menores.
Estácio
enriqueceu e morreu, deixando aos filhos a máquina maravilhosa. Eles
não souberam acioná-la, e daí resulta que a produção corrente de
poesia, divulgada no país, não é de qualidade superior.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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