Quando
o professor Nemésio explicou a Cacilda que o nome dela, segundo
Zambaldi, quer dizer “a que combate com lança”, a moça ficou
triste. É tão doce esse nome (experimentem pronunciá-lo) e tão
meiga a sua portadora, que a revelação lhe pareceu a mais injusta
possível.
O
pior é que os irmãos começaram a brincar com ela de maneira
provocadora, dizendo a cada instante: “Cacilda, onde você escondeu
sua lança?”. Ou: “O amolador de facas está na esquina da rua
Júlio de Castilhos. Leve a lança para ele afiar, Cacilda”.
De
aveludada que era, Cacilda tornou-se suscetível e mesmo agressiva. O
namorado rompeu com ela, dizendo que tinha medo de uma lanceira
polonesa. E Cacilda quedou, fera e tristinha, em seu quarto onde
havia gravuras de guerras napoleônicas.
A
família procurou o professor Nemésio que, benevolamente, se dispôs
a pacificar a moça: “Minha filha, isso de etimologia é muito
discutível, cada uma diz uma coisa, e esse tal de Zambaldi já foi
desacreditado por pesquisas recentes. O verdadeiro significado do
nome de uma pessoa é o que lhe confere a pessoa que o tem. Você é
tão encantadora que seu nome só pode significar você mesma, isto
é, encantos mil”.
Cacilda
acreditou e voltou ao estado gentil, mas sucede que, de vez em
quando…
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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