Não
vou dizer o meu nome de batismo. Aos 15 anos quis adotar o nome de
Goldie. Mas desisti quando vi que havia uma porção de mulheres
esquisitas chamadas Goldie. Então tive uma ideia brilhante: adotei o
nome de Alma. Alma é um termo derivado do hebraico nephesh,
que significa vida ou criatura, e também do latim animu,
que significa “o que anima”.
É
um nome bonito, duvido que alguém o ache feio. Feio era o meu nome
antigo. Não vou dizer qual era, de jeito nenhum.
Quando
adotei o nome Alma, pintei os cabelos de louro. O dourado anima,
simboliza vibração elevada, vigor, inteligência superior e
nobreza. É a cor da opulência, da luz e da prosperidade. Traz
charme e constrói confiança, dá poder, persuasão, energia e
inteligência. Senti isso tudo olhando o meu rosto no espelho.
Mas
os clientes não gostavam.
“Alma?”,
disse um deles. “Posso chamar você de Mimi?”
“Mimi,
Mimi?!”, gritei. “Ponha-se daqui para fora.”
Dona
Erotildes me chamou.
“Genoveva”,
ela disse.
“Pelo
amor de Deus, dona Erotildes, não me chame por esse nome”, pedi.
“Mas
é o seu nome.”
“Não,
não, não, eu já o abandonei há muito tempo.”
“Quero
saber por que você brigou com o cliente.”
“Ele
me chamou de Mimi.”
“Mas
Alma não dá, você não pode trabalhar aqui com esse nome. Alma?
Isso não é nome de gente. Outra coisa, você é uma mulher bonita,
a mais bonita de todas, mas é a que tem menos clientes. Quando ouvem
o nome Alma eles desistem. Olha, Genoveva, temos que mudar o seu
nome.”
“Pelo
amor de Deus, não me chame de Genoveva.”
“Está
bem. Anda, vamos escolher um nome para você.”
Ficaram
meia hora vendo nomes. Nenhum foi aceito por nenhuma das duas.
Finalmente
dona Erotildes deu um soco na mesa.
“Já
decidi. O seu nome vai ser Mimi. É um nome bonito, agradável,
sensual, fácil de memorizar. Mimi, seu nome vai ser Mimi.”
“Mimi
não, por favor.”
“Será
Mimi, ou então vou mandar você embora.”
Mimi
chorou muito. Seus olhos chegaram a inchar.
Mas
acabou se conformando.
E
então, no lupanar de dona Erotildes, a Mimi passou a ser a mais
solicitada.
Nome?
O que há em um nome?
Rubem
Fonseca,
in Histórias
curtas
Nenhum comentário:
Postar um comentário