quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Misto-Quente / 25

Curly Wagner escolheu Morris Moscowitz. Foi depois da aula, e oito ou dez de nós tinham ouvido a respeito e nos dirigimos para trás do ginásio para assistir. Wagner estabeleceu as regras:
Lutaremos até que um de nós desista.
Por mim, tudo certo – disse Morris.
Morris era um cara alto e magro, meio abobado, e quase não falava nem incomodava os outros.
Wagner olhou para mim.
E depois que eu acabar com a raça desse sujeito, vou pegar você.
Eu, treinador?
Sim, você, Chinaski.
Sorri para ele com escárnio.
Vou fazer com que me respeitem, desgraçados, nem que tenha que pegar um por um de vocês!
Wagner era metido a valente. Estava sempre se exercitando nas barras paralelas, ou dando cambalhotas sobre os colchonetes, ou dando voltas ao redor do campo. Andava com uma postura arrogante, mas a barriguinha continuava lá. Gostava de ficar parado e encarar um cara por um longo tempo, como se o cara não passasse de um monte de merda. Eu não sabia exatamente o que o incomodava. Nós o aborrecíamos. Creio que ele pensava que estávamos fodendo todas as garotas como loucos e essa era uma idéia que o desagradava.
Eles começaram a lutar. Wagner fazia bons movimentos. Gingava e se esquivava, tinha jogo de pernas, entrava e saía do raio de ação do adversário, emitia leves sibilos. Ele impressionava. Acertou três jabs de canhota em Moscowitz. Moscowitz apenas ficava ali, os braços esticados, sem erguer a guarda. Ele não sabia nada sobre boxe. Então Wagner o acertou com um direto no maxilar.
Merda! – disse Morris, desferindo um gancho de direita do qual Wagner se esquivou.
Wagner contra-atacou com um 1-2 no rosto de Moscowitz. Seu nariz começou a sangrar.
Merda – ele disse, e então começou a gingar. E a golpear. Você podia ouvir o som dos golpes, despejados em sequência contra a cabeça de Wagner.
Wagner tentou revidar, mas seus golpes não tinham a fúria nem a força dos de Moscowitz.
Puta merda! Acabe com ele, Morrie!
Moscowitz era um lutador nato. Acertou uma canhota na barriga redonda de Wagner, que sentiu asfixia e caiu, dobrando-se sobre os joelhos. Seu rosto estava cortado e sangrava. Apoiava o queixo no peito e parecia estar passando mal.
Desisto – disse Wagner.
Nós o deixamos lá, atrás do prédio do ginásio, e nos afastamos junto com Morris Moscowitz, promovido agora a nosso novo herói.
Porra, Morrie, você deveria lutar entre os profissionais!
Não, só tenho treze anos.
Caminhamos até os fundos da oficina mecânica e ficamos pelos degraus. Alguém acendeu alguns cigarros e começamos a circulá-los.
O que é que aquele cara tem contra a gente? – perguntou Morrie.
Mas que diabos, Morrie, você não sabe? Ele sente ciúmes. Pensa que estamos trepando com todas as garotas!
Como? Eu ainda nem beijei uma garota.
Sério, Morrie?
Sério.
Você deveria tentar ao menos fazer nas coxas de uma garota, Morrie, é uma beleza!
Então vimos Wagner passar. Ele estava cuidando dos ferimentos no rosto, estancando o sangue com um lenço.
Ei, treinador – gritou um dos caras –, que tal uma revanche?
Parou e ficou nos encarando.
Apaguem esses cigarros, garotos!
Ah, não, treinador, gostamos de fumar!
Venha até aqui, treinador, e nos obrigue a apagar os cigarros!
Isso, chegue mais, treinador!
Wagner continuou apenas nos olhando.
Ainda não terminei com vocês! Pegarei cada um de vocês, de um jeito ou de outro!
E como vai fazer isso, treinador? Já conhecemos seus talentos limitados.
É, treinador, como é que vai fazer isso?
Afastou-se do campo e foi até onde estava seu carro. Senti um pouco de pena dele. Quando alguém é assim tão antipático, deveria ao menos ter a capacidade de se defender.
E acha que não vai mais haver nenhuma virgem nas redondezas quando nos formarmos – disse um dos caras.
Acho – disse outro – que alguém gozou dentro do ouvido dele e a porra já chegou no cérebro.
Depois dessa nos dispersamos. Tinha sido um dia dos mais agradáveis.
Charles Bukowski, in Misto-Quente

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