Curly
Wagner escolheu Morris Moscowitz. Foi depois da aula, e oito ou dez
de nós tinham ouvido a respeito e nos dirigimos para trás do
ginásio para assistir. Wagner estabeleceu as regras:
– Lutaremos
até que um de nós desista.
– Por
mim, tudo certo – disse Morris.
Morris
era um cara alto e magro, meio abobado, e quase não falava nem
incomodava os outros.
Wagner
olhou para mim.
– E
depois que eu acabar com a raça desse sujeito, vou pegar você.
– Eu,
treinador?
– Sim,
você, Chinaski.
Sorri
para ele com escárnio.
– Vou
fazer com que me respeitem, desgraçados, nem que tenha que pegar um
por um de vocês!
Wagner
era metido a valente. Estava sempre se exercitando nas barras
paralelas, ou dando cambalhotas sobre os colchonetes, ou dando voltas
ao redor do campo. Andava com uma postura arrogante, mas a
barriguinha continuava lá. Gostava de ficar parado e encarar um cara
por um longo tempo, como se o cara não passasse de um monte de
merda. Eu não sabia exatamente o que o incomodava. Nós o
aborrecíamos. Creio que ele pensava que estávamos fodendo todas as
garotas como loucos e essa era uma idéia que o desagradava.
Eles
começaram a lutar. Wagner fazia bons movimentos. Gingava e se
esquivava, tinha jogo de pernas, entrava e saía do raio de ação do
adversário, emitia leves sibilos. Ele impressionava. Acertou três
jabs de canhota em Moscowitz. Moscowitz apenas ficava ali, os braços
esticados, sem erguer a guarda. Ele não sabia nada sobre boxe. Então
Wagner o acertou com um direto no maxilar.
– Merda!
– disse Morris, desferindo um gancho de direita do qual Wagner se
esquivou.
Wagner
contra-atacou com um 1-2 no rosto de Moscowitz. Seu nariz começou a
sangrar.
– Merda
– ele disse, e então começou a gingar. E a golpear. Você podia
ouvir o som dos golpes, despejados em sequência contra a cabeça de
Wagner.
Wagner
tentou revidar, mas seus golpes não tinham a fúria nem a força dos
de Moscowitz.
– Puta
merda! Acabe com ele, Morrie!
Moscowitz
era um lutador nato. Acertou uma canhota na barriga redonda de
Wagner, que sentiu asfixia e caiu, dobrando-se sobre os joelhos. Seu
rosto estava cortado e sangrava. Apoiava o queixo no peito e parecia
estar passando mal.
– Desisto
– disse Wagner.
Nós
o deixamos lá, atrás do prédio do ginásio, e nos afastamos junto
com Morris Moscowitz, promovido agora a nosso novo herói.
– Porra,
Morrie, você deveria lutar entre os profissionais!
– Não,
só tenho treze anos.
Caminhamos
até os fundos da oficina mecânica e ficamos pelos degraus. Alguém
acendeu alguns cigarros e começamos a circulá-los.
– O
que é que aquele cara tem contra a gente? – perguntou Morrie.
– Mas
que diabos, Morrie, você não sabe? Ele sente ciúmes. Pensa que
estamos trepando com todas as garotas!
– Como?
Eu ainda nem beijei uma garota.
– Sério,
Morrie?
– Sério.
– Você
deveria tentar ao menos fazer nas coxas de uma garota, Morrie, é uma
beleza!
Então
vimos Wagner passar. Ele estava cuidando dos ferimentos no rosto,
estancando o sangue com um lenço.
– Ei,
treinador – gritou um dos caras –, que tal uma revanche?
Parou
e ficou nos encarando.
– Apaguem
esses cigarros, garotos!
– Ah,
não, treinador, gostamos de fumar!
– Venha
até aqui, treinador, e nos obrigue a apagar os cigarros!
– Isso,
chegue mais, treinador!
Wagner
continuou apenas nos olhando.
– Ainda
não terminei com vocês! Pegarei cada um de vocês, de um jeito ou
de outro!
– E
como vai fazer isso, treinador? Já conhecemos seus talentos
limitados.
– É,
treinador, como é que vai fazer isso?
Afastou-se
do campo e foi até onde estava seu carro. Senti um pouco de pena
dele. Quando alguém é assim tão antipático, deveria ao menos ter
a capacidade de se defender.
– E
acha que não vai mais haver nenhuma virgem nas redondezas quando nos
formarmos – disse um dos caras.
– Acho
– disse outro – que alguém gozou dentro do ouvido dele e a porra
já chegou no cérebro.
Depois
dessa nos dispersamos. Tinha sido um dia dos mais agradáveis.
Charles
Bukowski, in Misto-Quente
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