Muita
vez me entretenho em reconstruir de memória a nossa antiga casa
paterna. Deixo-me estar no caramanchão, com sua mesa de pedra
apanhando o sol coado pelas trepadeiras. Quanto aos longos
corredores, será melhor que os evoque de noite, quando, no escuro do
quarto, fico a imaginar que a noite de agora está cobrindo ainda a
velha casa.
Sim!
nesta época de grandes transformações arquitetônicas, a nossa
alma teimosa continua morando nessas casas-fantasmas.
Reconstruíram
a cidade antiga, mas esqueceram-se de reconstruir as nossas almas.
Daí, a instabilidade contemporânea.
Porque
não somos contemporâneos de nós mesmos. Porque, hoje, só podemos
dizer com saudade aquele belo verso de Sainte-Beuve:
“Naître,
vivre et mourir dans la même maison...”
P.S.
Este verso, é a segunda vez que o cito neste livro.
Mas
não há motivo para pedir desculpas. Muito pelo contrário.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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