segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Leoa

Imagem: Depositphotos

A leoa me fita.
Seu olhar é um ventre.

E nele volto a nascer.

No incêndio de uns olhos
me entrego a ocultas divindades.

E a mim mesmo caço,
escravo de quem me dá fim.

Na felina sofreguidão me devoro.

E aos despedaços
me arranco de mim
para seus olhos solares.

Essa morte anseio:
ausência perfeita,
alma de regresso ao inumano.

Vem do fogo
o meu único descanso.
Mia Couto

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