É
sempre assim. Durante algum tempo ninguém vem chatear você com
sugestões idiotas, até que um parente ou um amigo lhe diz:
“Você
precisa fazer um regime. Quanto você está pesando? Daqui a pouco
você não arranja mais namorada, as mulheres não gostam de homens
gordos.”
Eu
só como putas. Elas gostam de homens gordos, ou fingem gostar e eu
acredito.
Nunca
subi numa balança. Não tenho interesse em saber quanto estou
pesando. Eu gosto de comer. Qualquer pessoa normal gosta de comer.
Maluco não gosta, e eu não sou maluco. Existe aquela frase chistosa
que diz “tudo o que é bom é ilegal, imoral ou engorda”. Comer
era muito bom e eu tinha que pagar um preço por isso, além do
dinheiro que gastava.
Mas
de qualquer maneira fiquei em casa matutando sobre regime. Perdi o
sono. Então decidi tentar o tal regime alimentar. Mas quem me
pressionou foram as minhas roupas. Elas começavam a me apertar e
depois de algum tempo eu nem mesmo podia usá-las.
Então
fiz algo que nunca pensei que faria: subi numa balança.
Não
vou contar o resultado.
Liguei
para o meu amigo Jaime, que havia dito que eu precisava fazer um
regime.
“Quero
fazer o tal regime”, eu disse.
“Você
tem que procurar um médico especialista em regime alimentar.”
“Você
tem alguma sugestão?”
“Sei
o nome de uma médica muito competente. Fez o tratamento do
Gumercindo. Lembra do Gumercindo? Perdeu mais de trinta quilos no
tratamento que fez com ela.”
“É
uma mulher?”, perguntei.
“Você
tem alguma coisa contra as mulheres? Fique sabendo que elas são mais
competentes do que os homens em todas as profissões. Todas.”
O
nome da médica era Suzana Melo.
Marquei
hora pelo telefone. Quando cheguei ao consultório e conheci a
doutora Suzana, tive uma surpresa: ela era uma mulher gorda, muito
gorda.
“A
senhora é a doutora Suzana?”
“Surpreso?”
“Não,
não... eu...”
“Não
esperava que eu fosse uma pessoa gorda.”
“Meu
amigo Jaime disse que um cliente seu perdeu trinta quilos...”
“É
verdade. Mas mesmo assim ele continuou gordo. Ele pesava 120 quilos e
ficou com noventa. Viver sem gordura é péssimo. Péssimo não:
inviável. Como disse o cientista alemão Hans-Peter Hauptmann, as
gorduras servem de base para a formação de diversos hormônios no
seu corpo, inclusive os hormônios sexuais. Alguém completamente
livre de colesterol seria tão dinâmico e sedutor quanto uma
tartaruga com cãibra.”
“Tartaruga
com cãibra?”
“Graça
de alemão. O senhor é casado?”
“Não.”
“Mas
tem namoradas, não?”
“Sim,
tenho.” (Minhas putas não deixavam de ser namoradas.)
“Quer
ficar magro e impotente?”
“Não,
não.”
“Então
o senhor está dispensado.”
“Posso
ir embora?”
“Não
quer conhecer o meu quarto?”
Como
seria a doutora Suzana na cama? Eu daria conta do recado?
Fomos
para o quarto.
Bem,
resumindo: desisti de emagrecer. Estou muito feliz gordo. É claro
que a doutora Suzana está me ajudando.
Rubem
Fonseca, in Histórias curtas
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