Há
muitas pessoas de imaginação sensível que amam as crianças.
Encontrei na revista pedagógica Cem Modialitá, que se
publica na Itália (Via Piamarta 9 – 25121 – Brescia – Itália),
um artigo com um título curioso: “A pedagogia do caracol”. O
autor, Gianfranco Zavalloni (www.scuolacreativa.it) conta da mãe de
uma menina que o procurou e lhe relatou o seguinte: “Outro dia
minha filha me disse: mamãe, os professores dizem sempre: ‘Força,
crianças! Não podemos perder tempo porque devemos andar para
frente!’. Mas, mamãe, para onde devemos ir? Para frente, onde?’”.
Essas perguntas da menina o levaram questionar o ritmo de pressa que
as escolas impõem às crianças. No seu lugar, ele propõe a
pedagogia do caracol. Os caracóis não sabem o que é pressa. E ele
fala de um curso de formação de professores do Gruppo Educhiamoci
alla Pace di Bari sobre o tema “Na companhia do ócio, da lentidão
e da poesia”. Sugere que no cotidiano dos professores com as
crianças deveria haver tempo para simplesmente jogar conversa fora,
conversa que não quer ensinar coisa alguma. Simplesmente ouvir as
crianças é coisa muito preciosa. Elas aprendem que são importantes
e que é importante ouvir as outras. Caminhar, passear, andar a pé,
observando as coisas ao redor. Contemplar as nuvens. Escrever cartas
e cartões a lápis ou caneta; não usar os e-mails. Plantar uma
horta. Plantando uma horta, as crianças aprendem sobre os ritmos da
natureza. Quem observa os ritmos da natureza acaba por ganhar
equilíbrio pessoal. Plantar uma horta talvez seja uma terapia mais
poderosa que a dos consultórios. A velocidade é o ritmo das
máquinas. Mas nós não somos máquinas. Somos seres da natureza
como os animais e as plantas. E a natureza é sempre vagarosa. É
perigoso introduzir a pressa num corpo que tem suas raízes na
lentidão da natureza.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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